sábado, 30 de novembro de 2013

E esse corpo? Quanto custa?


Sábado, 8:20hs da manhã, laboratório de exames médicos. 
Senha, cadastro, perguntas e respostas, espera - longa espera.

Do meu lado, um jovem rapaz inquieto. Sacode as pernas, balança os pés, estala dos dedos, os punhos e, em um gesto aflitivo, o pescoço. Ao seu lado, uma senhora lhe pede paciência, faz um carinho no seu joelho e, timidamente, lhe lança um sorriso (daqueles que só mãe consegue oferecer em dada situação).

Mais tempo passa. 

O rapaz, tira o boné, passa uma mão no rosto, olha o relógio. Ostentando seus (muitos) músculos, passeia pela sala de espera e, voltando-se novamente à senhora, diz: "não posso mais, estou catabolizando mãe, eu preciso comer!"

A senhora: "Filho, fique calmo, mais uns minutinhos já vai para o exame..."
Os músculos: "Quero ir embora!"
A senhora, de modo agridoce:  " Hoje não temos escolha. Se você não tivesse usado aquelas seringas, não estaríamos aqui para refazer os exames." 
Os músculos: "Ah não, isso de novo não..." 
A senhora: "A médica disse que..."
Os músculos: "Eu precisava crescer rápido... Já disse que eu tinha que estar 'trincado'' em Porto..."

Parei de ouvir. 
Ou me fiz parar de ouvir. 
Mais ainda, talvez tenha me perdido nas minhas considerações a respeito...

O corpo que é usado como roupa. 
O corpo construído de forma hipócrita: que apresenta uma saúde que não tem.
Uma composição corporal que não só depende de disciplina no treino físico, como também requer uma clausura psicológica - e, claro, de ampolas de anabolizantes. 

Que corpo você quer vestir hoje? 
E amanha? 
... E quando tiver 80 anos?


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Um retrato pessoal.

Cheguei à Europa por Amsterdã.

Meu destino? Itália! 


Quando o pequeno avião decolou - já 12:30hs no horário local - a passageira que sentava ao meu lado, tirou de sua bolsa, um saco de plástico, e desembrulhou um sanduíche (pão preto de grãos, queijo tipo feta, pepino e tomate). Comeu com gosto. Antes mesmo de se ter o serviço de bordo, ainda do mesmo saco, desembrulhou uvas verdes e, uma a uma, consumiu todo o pacote, entredita no seus planos de viagem: com uma mão pegava as uvas, e com a outra folheava um guia turístico da Itália.


Vestindo uma calça de cargo bege, sapatos confortáveis, um pulôver cor de rosa sobre uma blusa básica branca. Olhos azuis, cabelos presos em um rabo de cavalo. Simples. Linda. Conversava com sua amiga em alemão e, gentilmente, não aceitou o lanche oferecido no avião.
Não pude deixar de reparar na atitude. Na qualidade da alimentação. Nas escolhas. Na... Cultura?


Com estes pensamentos, cheguei na bellissima cita della pasta.

Massa, pizza e vinho! Sorvetes artesanais derretem nos cones de biju e, colorem  as gelaterias abarrotadas de pessoas.
Em Roma come-se por prazer, com gosto e com alegria.


Seguindo adiante na viagem, eis que chega Firenze. Pratos típicos da Toscana - como a Bisteca à Fiorentina (um verdadeiro naco de carne bovina servido parcialmente cru) e a Rigollina (uma sopa de repolho, cenoura, abobrinha e pão italino) - são verdadeiros pontos turisticos. Os panificados adoradados encantam nas vitrines e os capuccinos com biscoitos recheados de geleia enfeitam as mesas das cafeterias. Uma festa.
Em Florença come-se com arte, como tempo e com consistência.


Seguindo adiante na viagem, eis que chega Milão - a capital da moda.
Ah... E como a moda é cruel (e cara)!

Passeando na famosa - e verdadeiramente bela - galeria Vitorio Emanuelle, entre as lojas de marcas famosas e mulheres esguias passeando com seus cachorrinhos no colo, me deparo com a imagem que, para mim, mais marcou nos tortuosos corredores do pensamento moda-cultura-corpo.  Na entrada da ostentosa ZARA MILANO (de três andares, estes completamente abarrotado de pessoas), três esquálidos manequins expõe roupas da marca. As roupas, repare bem, vestem-os de modo justo. Feitas para um corpo absolutamente magro.

Há quem diga que são meros manequins, feitos assim para realçar a beleza da roupa. Há quem diga que são manequins estilizados, idealizados enquanto escultura. Há quem nem os note. Há quem se inspire neles... Para mim, a despeito do que se pretendia, ficou uma.. Tristeza.


Enquanto pessoa me senti distante de toda alegria alimentar italiana. Enquanto mulher, me senti muitíssimo mal representada, como se aquilo tudo não fosse para mim. E, mais ainda, enquanto nutricionista, crente na individualidade metabólica de cada ser e na beleza de ser feliz, me senti ligeiramente culpada e absolutamente preocupada.

E quando lembro da alemã do inicio da viagem... A simplicidade de ser bela!