terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Festas & o Desespero de um Bom Momento

"E agora? Como faço nas festas?"... Pausa, suspiro... Aparência de inquietação... "Tenho medo de estragar tudo!".

Não são poucas as vezes que ouvi isso nesses últimos dias - semanas até. Ouvi muito mais do que eu gostaria e muito mais do que eu esperava - sobretudo, porque creio que meus pacientes já me conhecem e sabem do meu compromisso com a felicidade! 

Acho curioso considerar este período tão cheio de delícias (sociais, afetivas e, claro, alimentares) lamentavelmente "preocupante". 

A privação não está com nada. 
Ela é cruel, inoportuna e fria.
É triste, desencantada e solitária. 
Ela é tudo que não se deseja em comunhão e, mais ainda, exatamente o contrário do espírito que ronda o final de ano e suas festas. 

Acho que por isso mesmo que assusta: verdade seja dita... Temos medo da felicidade, da liberdade... No limite, temos medo de festejar, comer e brindar sem culpa! 

Nos próximos dias estaremos expostos à reuniões com queridos, comidas gostosas feitas com dedicação e carinho, abraços, sorrisos e votos de felicidades. 
Como é que conseguiram fazer desse universo festivo um cenário de "preocupações"? Como podem reduzir a alimentação à nutrição-de-funcionalidade-metabólica-que-te-engorda? 

Por aqui, me resta desejar - de todo o meu coração - que tenhamos força, foco e coragem para curtir a vida! (Incluindo as festas de final de ano!)

Parcimônia (sem restrições, nem para mais nem para menos!), harmonia e felicidade, na vida, nas festas e à mesa.



sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Sai pra lá com essa tal nutrição!

Quem me conhece sabe que gosto muito do que eu faço.
Na verdade é quase impossível não notar.

No entanto, é com uma frequência quase que assustadora que me pego pensando o quão insuportável é essa tal nutrição. Digo tal nutrição, porque essa aí, que me incomoda horrores não é a minha querida nutrição. 

A tal nutrição é dura, fria, cheia de não-faça-isso-não-faça-aquilo. É repleta de restrições abusivas: que, pouco a pouco, vão retirando a graça e o gosto do leite, do pão e da vida.
A minha querida nutrição é calorosa, colorida e pede licença ao entrar na vida dos outros. Acredita, sobretudo, na harmonia: coloca aqui, mexe acolá e oferece ferramenta para as escolhas pessoais.

A tal da nutrição fala de receitas fit, de suplemento cheio de pompa e milagre na forma de alimentos. A minha querida nutrição me assegura que comer é mais do que matar a fome, constrói corpos e laços afetivos e que não há tal coisa como alimento bonzinho e bandido, o que vale mesmo é a combinação.

A tal da nutrição calcula gramas, conta calorias e traça metas.
A minha querida nutrição considera o modo com que o corpo usa essa energia toda, como a distribui e como a estoca, não depende de nenhum software "de dieta" tão pouca da (in)exatidão das tabelas nutricionais. As metas, por aqui, são facilmente substituídas por um sorriso - daqueles bem verdadeiros - no rosto do paciente.

A tal da nutrição acredita muito na "funcionalidade" das coisas: nutrição funcional, treino funcional, dieta+exercício funcional, etecetera-e-tal.
A minha querida nutrição acha o termo "funcional" muito intrigante: respeita-o enquanto termo técnico, mas ri da sua obvialidade. Acredita que a alimentação não é feita de "coisas", mas de um todo combinado.

A tal nutrição acha que o bonito é ser magro, forte e definido... Por vezes, chama isso de saudável.
A minha querida nutrição diz que corpo, cada um tem o seu. Gostos e preferências, idem. Se ser assim é o que você quer: vamos fazê-lo. Se ser assado lhe encanta mais: ótimo! Não há a menor necessidade em querer ser algo que na verdade, lá no fundo, não se é.
Se para atingir uma #meta é preciso sofrer, talvez seja melhor considerar e refletir... Se valer a pena, vença o sofrimento e o transforme em conquista; Se não valer, meu caro, é hora de traçar novos planos - a vida é sua!

Ô minha querida nutrição, gosto tanto de você!
Queria tanto que você fosse mais forte do que essa tal nutrição.
No que depender de mim, pode ficar tranquila que estarás a salvo.
Porque, assim como você, eu também acredito que o #foco é ser feliz.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A beleza... Sempre ela.

Parece que deu um clic. 

Meio-que-de-repente, algumas considerações "diferentes" começaram a aparecer.

Lá atrás (em 2004 - já se foram 10 anos!) a Dove (Unilever), através de uma pesquisa mundial, chegou à conclusão de que as mulheres estavam tristes com seus corpos, com a representação deles e, mais ainda, com a obrigatoriedade em atender à dadas dimensões, cores e texturas.

Pois bem. Sabido isso, campanhas e peças publicitárias foram estruturadas em favor da "real beleza".  Lindas e emocionantes, tocaram (e ainda tocam) as mulheres no coração (aqui, no sentido da emoção, e da profundidade que alcançam). 

Vídeo, depoimentos, fotos, relatos... Acredito que, minimamente, novas reflexões se fizeram e a angústia de uma irrealidade corporal - daquelas que nos mantém presas pela auto censura - começou a deixar-se à mostra.

Ao meu ver, um grande avanço. 

De toda a euforia do movimento, daquilo tudo que partiu do "clic" inicial, dois pontos me incomodam profundamente: o primeiro, diz respeito àqueles que acham que isso tudo é bobagem, que temos o que temos, que somos o que somos, e "bora" explorar a mulher (sua beleza e seu corpo) nos mais variados contextos, sexualizando-os, na maioria das vezes, e; o segundo, que me parece bem escondido, quase paradoxal, surge como indagação: por que é mesmo, que temos que ser belas? 

Pois sim, por que é que temos que ter "a real beleza"? Por que temos que nos sentir belas - mesmo que a beleza que tenhamos não seja do padrão? Por que "a beleza" é sempre (SEMPRE), o objetivo? 

Cabe dizer aqui creio fortemente na importância do bem-sentir-se. Isso é indiscutível. Só não consigo compreender, o motivo da sua estreita relação com o bonita-sentir-se... Alguém cobra isso do homem? Por que aceitamos tanto essa questão de gênero? 

Lutamos contra tantas desigualdades, mas esta, por sua vez, parecemos aceitar.

Talvez, ao invés de todos os esforços serem aplicados na busca pela "real beleza", pudéssemos mudar o foco e partir no sentido da "real felicidade". Não é não? 


sábado, 8 de novembro de 2014

Citações que cortam o coração...

Queria muito que não fossem frases verdadeiras. 
Mas são. 
E como são. 

"Ah, quero a água: vamos economizar na celulite, né?"
        - menininha, 7 anos, em festa de aniversário, recusando refrigerante. 

"Não quero essa barriga!"
         - menininha, 6 anos, apertando com raiva sua barriga.

"Mas a minha amiga pesa menos! Eu também quero pesar igual a ela! Quero pesar menos! Muito menos!"
         - menininha, 8 anos, chorando ao se pesar na farmácia.

"Eu já comi uma fatia de bolo, mas eu queria taaaaaanto mais uma!"
           - menininha, 6 anos, com olhos mareados, explicando à mamãe que quer mais um pedaço do bolo do aniversário da avó.

"Porque eu tenho vontade... Ai eu como... Ai eu tenho raiva de mim."
            - menininha, 8 anos, descrevendo sua aflição. 

Não há prisão mais solitária do que nossa própria consciência. Não há ditadura mais severa do que aquela que não se percebe. Não há angústia maior do que lutar contra aquilo que se "aprende" desde sempre.

Quem será que nos "ensina" isso?


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Carta aberta às queridas!

Querida, 

Não se cobre não.
Nós não somos como "elas".
Nossos afazeres diários não se resumem na proficionalização do "ser bela". 
Não saímos de casa apenas após os retoques do Photoshop e, já que ficou popular: somos, na verdade, sem filtro e sem make

Não se cobre não. 
Se não deu para ir na academia hoje. Tudo bem! 
Se não deu para fazer a dieta perfeitinha. Tudo bem, também! 
As vezes, tudo o que precisamos é um tempo, curta-o com carinho. 
Se não deu para ter um tempo? Não se preocupe, mas trate de arrumar tempo para seu tempo (nem que a aula de jump fique para amanhã)! 

Não se cobre não. 
A roupa, em um corpo de verdade, sempre vai cair diferente do que a do manequim. 
As vezes, será mesmo preciso apertar aqui, diminuir acolá, pegar um número maior, um menor...
Cada corpo tem sua forma, sua magia e sua graça: felizmente não somos um padrão único! 

Não se cobre não.
A mocinha também vai envelhecer. 
A senhora também já foi mocinha. 
A vida não é sempre igual, e cada momento tem seu contexto: vale mais a pena aproveitar o de hoje, do que viver lembrando do que se teve, ou viver na expectativa do próximo verão. 
O pedaço de bolo de aniversário que você não aproveita hoje pode te ajudar no seu #foco, mas pode te fazer falta nas suas memórias da vida... E, certamente, da de quem o ofereceu.
Não se cobre não, a vida brinda à intempérie!

Querida, se você quiser ir malhar, comer "direito", usar suplemento, faça tudo com prazer (e com responsabilidade)! Aproveite seus treinos, cultive seus esforços, faça suas escolhas e colha seus resultados com alegria. Lembre-se que todo excesso não é bem vindo...

Lindona, se você não quiser treinar hoje, nem amanhã, nem depois... Tudo bem! Você não será menos por isso. Lembre-se que o corpo gosta do movimento, e que um passeio no parque pode ser bem prazeroso - nem que seja de final de semana, porque eu sei, parece que o tempo some! 

Não se cobre não. 
Não é preciso estar como os outros querem (ou como você quer que os outros te vejam) para ser feliz. Diferente do que as revistas femininas, os blogs fitness e todo-o-resto-do-universo nos falam, nossa felicidade não se resume a isso e não temos o dever de ser "belas" (seja lá o que a "beleza" significa e as características que demande). 

Não se cobre não!
Se me permitir a dica:
Durma, trabalhe, passeie, coma, cuide de você e dos seus, sorria, movimente-se... Faça a vida como você gostar, como preferir! 
Tenha cor nos seus dias e nos seus pratos. Palpe sua mama. Defenda suas ideias. Respeite você mesma, o próximo (e a próxima). Curta a seu modo, sem culpa das suas escolhas (a "liberdade" é justamente isso). 

Por fim... De verdade, não se cobre não! 


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Ela é gorda, e agora?

A representação do corpo feminino muito me intriga. Na capa da revista, na novela das oito, na propaganda (de maquiagem, de roupa, de carro, de cerveja...) e, sobretudo, na angústia relatada da imagem que se tem quando em frente ao espelho. Torno-me particularmente curiosa quando a discussão sobre o tema atinge a questão do gênero, não apenas enquanto representação (da mulher), mas como o outro (o homem) a observa. 

Creio que o olhar masculino em relação às representações da mulher muito diz dos dos valores da sociedade e da cultura em que se está inserido - talvez não por se tratar de homem e mulher (já que gostamos tanto desta distinção) mas por representar, de fato, o "olhar do outro". 

Pois então, é com este pensamento e neste contexto que precisei escrever sobre um vídeo simples, destes que encontramos por acaso na internet, mas que mexem com a gente de algum modo... Que incomoda. 

Dois colegas universitários, em uma pesquisa a cerca das redes sociais, questionaram sobre os receios que as pessoas têm frente a possibilidade real do encontro com quem só é conhecido online. Homes e mulheres expressaram "medos" diferentes. Drasticamente diferentes, devo dizer.

De modo geral, as mulheres têm medo de que seu online date seja um serial killer, um louco, um alucinado, que possa lhe fazer mal de algum modo (principalmente um mal físico).

De modo geral, os homens têm medo que sua online date seja gorda. 

Sim. Medo de que a mulher com quem trocou mensagens, que notou certo interesse em comum, de quem já viu fotos de perfil, seja, na vida real, "alguém gordo".

Com este conhecimento, os dois estudantes resolveram filmar a reação de representantes de ambos os gêneros frente ao encontro com seu online date mais pesado do que nas fotos da rede social. 

Para isso, pediram a um homem e uma mulher, que marcassem encontros através de uma rede social para solteiros, e fossem socializar com seus pares usando uma maquiagem-de-excesso-de-peso. O resultado? Ah...

Não gosto de "defender" um lado e atacar o outro - até porque não creio que o problema está em um lado só e, talvez antes de tudo, que homens e mulheres ocupem lados opostos na vida - mas, para fins de coerência, preciso considerar aqui a distinção de gênero. 

Os homens, arrepiados com seus grandes pesadelos de ter um encontro com uma mulher gorda, não esconderam a confusão entre a pessoa que acreditavam que veriam e a que estavam de fato encontrando. Todos fizeram referência explícita ao peso da moça. Muitos se mantiveram inquietos, desconfortáveis e distantes. Todos a deixaram sozinha na mesa do café. Um deles, nem sequer sentou-se com ela. Outro, disse que era casado. Outro, que não gostava de "ser enganado". Outro pediu licença para ir ao banheiro e não mais voltou.

As mulheres, ao se depararem com um homem bem mais pesado do que nas fotos do perfil social, deixaram transparecer certa confusão no reconhecimento do rapaz, mas o comportamento foi bastante diferente. Todas o acompanharam no sofá, conversaram e sorriram. Uma o acompanhou no café. Outra, aceitou a brincadeira de comparar o tamanho das mãos, tocando a sua na dele. Outra, o deu um beijo na boca. 

Temos então aquilo que tanto falamos do preconceito à pessoa com excesso de peso. A fobia masculina superou a educação e o respeito para com o próximo. Posso estar errada e sugestionada com meus próprios pensamentos... Mas, uma vez que a mulher é reduzida ao seu coro, se ele não agradou, ela deixa de ser interessante, e assim, não importa se ela vai ficar lá sozinha, sentadinha na mesa do café.

Creio verdadeiramente que as generalizações são falhas, e que as pessoas, a despeito do gênero, classe social e cultura, são únicas - que algum homem poderia não se importar com  o excesso de peso da moça e que alguma mulher poderia se importar com o excesso de peso do rapaz... Mas, o que a experiência reafirmou, foi que o peso é (sim) uma questão social e, quando considerado com o viés do gênero, se torna indiscutivelmente determinante. 

Tristemente, a mulher segue reduzida à seu corpo...



https://estilo.catracalivre.com.br/modelos/experimento-explora-a-rejeicao-que-pessoas-acima-do-peso-sofrem/

sábado, 27 de setembro de 2014

Glúten & O Globo Repórter

Eu sabia que seria assim. 
Tinha certeza. 

Eis que o Globo Repórter quis falar agora do pão. E assim o fez. 
"Da onde vem, o que faz, como ele te engorda...? Veja no Globo Repórter!".

E cá voltamos nós para o dilema pós-estrago midiático. Sei que já escrevi sobre isso - exatamente a respeito deste programa - mas não posso evitar: é preciso lembrar que o programa é um produto cultural, que precisa "se vender". 

Quanto mais gente assistir, melhor... Claramente, a escolha do tema foi assertiva: pauta polêmica (pela falta absoluta de consenso e da grande legião de "seguidores doutrinatarios"), pela presença constante do objeto da discussão na vida cotidiana (quem não come pão?) e, sobretudo, pela relação cruel com a vedete contemporânea da "perda de peso". 

Ótimo. Jornalistas e editores fizeram a lição de casa direitinho: e tiveram seu produto consumido em larga escala. 

Infelizmente, para quem trabalha com a nutrição como "coisa seria", para quem a respeita enquanto ciência, para quem literalmente vive dela, foi - novamente é como de consume - uma tristeza. 

Na alimentação não há vilões e mocinhos. Não existem receitas milagrosas. Não há privação desnecessária que seja a resolução dos problemas da vida - muito menos da "perda de peso". 

Enquanto profissional da área - que terá muito trabalho nas próximas semanas para minimizar o eco gerado em rede nacional - vale lembrar que não há comprovação científica suficiente para a retirada do glúten da dieta de indivíduos saudáveis, e o Conselho que ampara as resoluções e normativas da nossa prática profissional, carimba em baixo. É possível, inclusive, denunciar quem vai contra... Ou, melhor, quem vai a favor da maré da mídia.  

Mas é intrigante como gostamos de promessas e soluções... Como gostamos de uma restrição. E, mais interessante ainda, adoramos a chancela de "qualidade" advinda do respeito adquirido da grande mídia. 

Bom, vamos enfrente... Qual será a nova maravilha? Qual será o novo "veneno"? Sigo ansiosa no aguardo. 


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Nosso corpo nos representa, mas não nos resume.

Não é difícil alguém me perguntar o motivo desta "história de comentar contra o corpo ideal" ser tão importante para mim...

Me perguntam, sobretudo, sob a ótica do julgamento - de como sou, e com o que trabalho (da carreira e da especialização que escolhi). Me perguntam como se fosse óbvio buscar essa "tal beleza", e como se eu estivesse "errada" em considerar que talvez (só talvez, aqui com um pingo de ironia), fosse ok não ser mais um representante do padrão. Alguns me perguntam se eu não "canso de bater na mesma tecla", e outros, se a minha atitude não seria "pró-obesidade". (!)

Pois então... A tudo isso, respondo com outra pergunta: por que para todo-o-mundo, o corpo da mulher é tão importante? Mais importante do que ela mesma? Por que a mulher é tão objetificada, sexualizada, reconstruída e seu corpo é tido como "moeda de troca"?

Ao meu ver, o erro na interpretação está justamente em considerar que o assunto termina em si mesmo: no corpo.

O questionamento, por sua vez, reside na própria imediata relação: mulher = corpo.

Sim, temos um corpo, mas ele não nos determina absolutamente. 

Somos mulheres. Filhas, mães, avós, namoradas, esposas, amigas... Somos professoras, advogadas, escritoras, médicas, donas de casa, executivas... Temos tarefas a fazer, responsabilidades para lidar, prazos à cumprir e sorrisos a dar... Temos mais do que formas.

Vagando por aí - nos pensamentos e na internet - cheguei a um artigo de uma colaboradora de um jornal norte americano, que publicou uma coluna especial sobre seus 12 anos de casada, e a felicidade de sua vida. Ela o fez brilhantemente e coroou seu trabalho com fotos do seu dia especial.

Sobre sua linda história de amor e de companheirismo, sabe o que mais chamou a atenção? O que mais lhe rendeu comentários? O seu corpo.

De seu vestido branco, foi sinalizado como lhe marcava "as gorduras", de seu rosto radiante, ressaltaram seu "duplo queijo" e de seu esposo, a "coragem" em se casar com alguém "como ela".

Triste...

Pelas ofensas gratuitas e pelas duras palavras de julgamento - inquestionável. Muito triste pelo fato de que o corpo feminino foi mais relevante do que tudo. Se sobressaiu e a definiu.

Lamentável o reducionismo social da mulher às suas formas...

Pois então, será mesmo que eu preciso defender meus motivos para "bater na mesma tecla"? Ué,  e quem insiste em perceber a mulher como mero corpo (tanto os homens, como as próprias mulheres) também não o faz?

Enquanto acreditar que nosso corpo nos representa, mas não nos resume, eu sigo por aqui. Quem sabe mais alguém me acompanhe. 




http://m.xojane.com/it-happened-to-me/it-happened-to-me-i-wrote-an-article-about-marriage-and-all-anyone-noticed-is-that-im-fat?utm_source=upworthy&utm_medium=pubexchange

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

E os medicamentos voltaram...

Pois é... Eis que chegou o dia da votação final do projeto de (re)comercialização dos medicamentos “emagrecedores” – este projeto foi lançado na Câmara dos Deputados em abril deste ano, pelo Excelentíssimo Sr. Beto Albuquerque (do PMDB de Alagoas).

Em uma retrospectiva breve, os medicamentos em questão são aqueles que, em 2011, haviam sido proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Na época, os profissionais do dado órgão alegaram que, através de todos os estudos e resultados populacionais, os medicamentos avaliados ofereciam mais malefícios à saúde de seus usuários, do que a real conquista dos benefícios que buscavam. Mais ainda, seu uso indiscriminado,  como alternativa (rápida) para o emagrecimento, era inegável.  
Aos meus olhos, a conduta da ANVISA materializou o respeito com o organismo e, no âmbito social, um enorme benefício à saúde pública.

 O projeto de decreto legislativo, diferente das leis, não precisa ser sancionado pelo presidente para que entre em vigor, basta ser “aceito” através do voto dos senadores. Assim sendo, após o resultado da votação de 02 de setembro deste ano, estamos prestes a ter a reinserção destes produtos no mercado.

Lamentável.

De início, lamentável pelos resultados obtidos a partir do uso do medicamento. Queda de metabolismo, perda de massa muscular, pouca qualidade de manutenção dos “resultados”: peso perdido sem qualidade, e com grandiosíssima chance de efeito rebote, tornando o emagrecimento subsequente ainda mais difícil.

Mais adiante, lamentável pela sua condução. A medida será tomada a partir do consenso de senadores. Com todo o respeito aos seus cargos... Não creio que tenham expertise suficiente para determinar se dado medicamento é “bom” ou “ruim” à saúde da população. Sobre eles deveriam recair as decisões a partir das informações coletadas com os estudiosos no assunto – no caso, estes seriam a ANVISA, que proibiu a venda.

Mais além, lamentável pelos segundos interesses. A indústria farmacêutica é forte (e isso, enquanto argumento, basta).

Cá entre nós, este decreto legislativo é um retrocesso, não apenas na prática mas também na teoria do controle do peso, mais ainda quando se considera a saúde coletiva e o bem estar de uma sociedade.

Uma pena. Uma tristeza. Enfrentar conflitos de interesse sempre é muito difícil.


Creio que mais esforços deveriam ser somados em busca de políticas públicas em prol da saúde e da qualidade de vida da população, e que isto é um dever de todos os cargos políticos. No entanto, este decreto aqui, nada agrega a este favor... Aliás, muito pelo contrário.  




segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Por que não usar?

Me interesso muito pela dinâmica maquiavélica da Indústria da Dieta. 
Tenho um medo indescritível dos seus resultados e, justamente por isso, creio que ela não pode passar ilesa aos olhos, tão pouco aos comentários... 

Hoje, primeiro de setembro de 2014, no jornal nacional matinal da grande Rede Globo, uma matéria sobre o uso do HCG (clássico "hormônio da gravidez") sendo ilegalmente comercializado para promover a perda de peso, trouxe à tona este medo pessoal.

A reportagem contou com o flagrante de uma vendedora que diz, sem nenhum receio (e nenhuma vergonha) que a aplicação das ampolas, associadas a uma dieta de 500 calorias diárias (!) promoverá um emagrecimento "com saúde". Sei... 

Sem a pretensão de julgar, mas a título de uma consideração coerente, não me parece difícil a percepção de que esta conduta não é lá tão "saudável" assim... Ou me engano?

Continuando com a reportagem, foram consultados dois endocrinologistas sobre o assunto. Um deles, contra a prática (que inclusive não é aceita pelo conselho de medicina), assegura que a perda desenfreada de peso vem decorrente da restrição alimentar abusiva no período proposto e relata os problemas advindos do uso do dado hormônio... Problemas, permita-me a inferência, bem sérios, relacionados à complicações cardiovasculares (como infarto, derrames e tromboses...). 
Outro médico que, alegando ser "um paciente do HCG", diz que os resultados na prática são "muito bons", mas que os estudos... Termina ainda dizendo, com cara de quem faz e não se importa muito (literalmente dando de ombros), que se tem gente que tem resultados... Por que não fazer o uso? 

Pois então. Aí que vem a questão que anseio em responder! 

Não faça o uso, pois não é seguro, não se tem comprovação da eficácia do resultado (os estudos preliminares foram feitos na década de 60 e evoluíram muito pouco, permanecendo no estágio de investigação empírica) e, só para constar caso interesse, a prática não é legalizada.

Não faça uso, porque é um hormônio (protéico) de qualidades específicas e funções claras para o corpo, relacionados com a gravidez e a secreção de hormônios específicos... Quer mesmo mexer com isso? 

Não faça uso, porque o risco é eminente... Como a repercussão colateral atua no sistema cardiovascular, as consequências podem ser avassaladoras. Perder peso com maior risco de derrame? Porque?

Não faça uso, porque a "dieta" restritiva com 500 calorias vai te deixar triste, chateado(a), incomodado(a)... Vai tirar a cor do seu dia-a-dia. E se a felicidade cotidiana não te importar, não faça do mesmo modo, pois as 500 calorias diárias vão solar seu metabolismo no chão e depois vai ficar ainda mais difícil de conseguir perder gordura (e até mesmo o peso - já que ele é tão importante assim...).

Por fim, não faça uso, porque a vida é muito mais que isso. Muito mais do que perder peso a qualquer custo, apostando a saúde como moeda de troca. 

Por aqui, a militância continua. Hoje, não apenas "contra" a Indústria da Dieta, mas também contra a prática profissional incoerente e ao risco camuflado na confusão de conceitos (da beleza, da magreza, da estética e da saúde). 



http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2014/09/uso-de-hormonio-da-gravidez-para-emagrecer-traz-riscos-para-saude.html

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Não, a culpa não é "normal".

Ferramentas de controle social sempre existiram. 

Os mandamentos religiosos, os dogmas científicos, o bom senso, a "moral", o controle da grande mídia... Etecetera e tal. Todos controladores da vida em largo espectro. 

De todos, um em especial, me consome a alma (enquanto nutricionista, mas sobretudo, enquanto mulher): a culpa. 

Sem demagogias baratas e naturalizada socialmente, a culpa coordena ações e escolhas, tirando a cor, o sabor e os sorrisos que poderíamos ter. 

Com a culpa, comemos o que não queríamos comer, e não comemos o que, de fato, queríamos. Malhamos quando a vontade era descansar. Perdemos um encontro com queridos para não "sair da rotina".  

A culpa, ladra destemida, nos tira sobremesas gostosas, bolo da vó e pipoca no cinema. Nos tira a tarde da preguiça no sofá, o passeio sem compromisso no parque e o papo jogado fora na mesa de um bar.
Nos tira a possibilidade de cultivar novas boas lembranças. 
Nos arranca a leveza, nos sola no chão e, com frieza, materializa um "bom momento" em angústia. 

Aonde será que a culpa aprendeu a fazer tudo isso? 
Mais ainda, porque a damos tanto espaço?
O que ela nos dá em troca? A felicidade resumida em uma beleza cheia de culpa? 

Belo "novo" controle social que arrumamos, não? 
Quantas não são as lindas mulheres que, magras ou cheinhas, loiras ou morenas, negas ou brancas, baixas ou altas, não estão sob a jurisdição da culpa? 

Pois é...

Nutrição não é terrorismo.
Harmonia alimentar não é lei.
Atividade física não é ditadura.
E, não, a culpa, não é "normal". 

Que o #foco seja ser feliz! 


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Geração Treino&Dieta

Com dada frequência vejo "citações motivacionais" sobre os temas que orbitam o universo da construção do corpo através da alimentação e da atividade física. Normalmente eu não dou muito valor a elas... Me entristeço, fico apreensiva, mas considero que isso, assim como muitos outros maus da humanidade, perderá força um dia. 
Hoje, no entanto, foi diferente. 

Minha apreensão se fez para além da nutrição, ciência que cuido com muito carinho - sempre com o #foco em ser feliz! 
Minha tristeza veio sobre a "filosofia" treino&dieta e, mais ainda, do tipo de pessoa que ela cultiva. Pessoas estas, que precisam ser melhores do que os outros, e que não podem se dar ao "luxo" de comer com prazer, nem de "pular" um treino.

Ter motivação, objetivos e metas na vida é uma escolha pessoal. Própria. Digna. É o que nos faz acordar cedo, estudar, trabalhar, criar laços, construir histórias. 
Fazer escolhas baseadas nestes objetivos é, sem dúvida, muito importante para atingi-los. Assumir os esforços para alcançar estas metas é, também, indiscutível ao sucesso. 
Digo isso em relação a vida... (Longe de mim ser dona da verdade, mas me parece bastante plausível).

Pergunto eu: será que resumir os objetivos e metas da vida às formas corporais é algo que queremos para nós? Para nossos filhos? Para os filhos de nosso amigos? Para as gerações que estão por vir?

Sigo nas indagações: será que esta competição entre "quem é melhor" é um valor que devemos multiplicar? Será que é "justo" cultivar o senso de que "ter o corpo que se quer é possível através da dedicação"? Não haveriam condições anteriores a isso? 

E, finalmente: será que admiração física e inveja vão resumir essas metas e objetivos? Então quer dizer que todo o esforço, toda a privação e todo o determinismo de um, foi feito, na verdade, para o outro?

Nunca fomos tão livres, tão cheios de escolhas e de possibilidades na vida... E, no entanto, nunca nos aprisionamos tanto em uma mandatária necessidade do "sucesso-do-corpo-perfeito". 



quarta-feira, 23 de julho de 2014

... Posso dar uma dica?

Será que posso dar uma dica?
O dito popular é categórico: se dica fosse boa, era vendida, não dada.

Ok.

Mas aí, de repente, eis que diqueira virou profissão e a dica passou a ter valor de troca.

Ah... Essa liquidez do "mundo moderno". Que será que aconteceu? Será que a dica ficou boa? 

Eu arrisco um palpite, assim, como quem não quer nada.

No meu ponto de vista, juntando retalhos do pensamento, e correndo grandioso risco de hedonismo (mas tudo bem, no mundo das dicas, que mal faz um pensamento fragmentado?) quem mudou foi o contexto. Não a qualidade da dica.

É que, na prática, se os valores do contexto sofrem alteração, o conteúdo - ao menos o modo com que é percebido - também se altera.

No universo das aparências, com as relações intermediárias pelas imagens, com a essência doravante convertida de "ser" à "ter", agora reduzidas à "parecer", o que nos resta é acreditar na imagem. O que podemos além disso? Como duvidar de "resultado" que ela estampa? Como negar a qualidade da informação vinda de uma imagem que diz (que grita!) o "sucesso"? 

Ah... Aí fica fácil de "entender" o valor (comercial) da dica. Fica fácil de "entender" quando o corpo vira capital. Mais, qunado a imagem deste corpo vira capital. Quando a imagem vira o consumo...

Mas, enfim.

Retomando meu pedido inicial, posso dar uma dica? Mesmo sem todo esse fetiche? Mesmo se for uma dicazinha assim, meio sem graça? Meio "sem espetáculo"?

Então aí vai: acho que é melhor escolher o caminho do meio.

Eu acho que é melhor escolher ser mais ameno, mais gentil, mas respeitoso, mais humano. Acho que vale cultivar a empatia.

Eu acho que é melhor respeitar a diversidade. Respeitar o que é felicidade para os outros. Porque os outros são, desculpe o óbvios, os-ou-tros!

Vamos escolher o caminho do meio! Sem as duras e frias "verdades absolutas", sem o "veementemente a favor", nem o "completamente contra". Sem moldar pensamentos: nem pra lá, nem pra cá.

Escolher o caminho do meio, ao contrato do que pensam, não é ficar indeciso ou indefinido, é escolher o distanciamento para ponderar, equilibrar e, sobretudo, por em prática o respeito ao próximo. 

O caminho do meio não briga com ninguém, é mais compreensivo e abre as portas.

O caminho do meio recebe aqueles que querem um pouco mais disso e aqueles que querem um pouco mais daquilo. Sem euforias. Sem pré-conceitos.

Mas ó, relaxa... Se não achar que vale a pena, tudo bem... Era só uma dica mesmo! ;)


terça-feira, 15 de julho de 2014

Desculpe, mas isso não é nutrição!

Não foi só uma vez... Nem duas... Nem três.

É significativo - e muito triste - o número de vezes que me deparo com premissas desafiadoras direcionadas à minha prática profissional. Não à minha propriamente dita, mas àquela que escolhi como minha.

"Quero estar longe de um nutricionista!", "Com tudo que já ouvi de nutrição, quero passar longe de um!", "Não quero ninguém me dizendo o que posso ou não posso comer!", "Eu já sei o que devo fazer!"... Que aperto no coração, que dor que me dá!

E se eu dissesse que não somos isso? Que não estamos aqui para ditar regras, traçar metas e ajustar manequins?

E se eu dissesse que não somos fiscais? Que nosso objetivo por aqui é a militância pelo bem comer? Que eu, nem se quer, uso os termos "pode" ou "não pode" nas minhas consultas?

E se eu dissesse que não temos essa pretensão? Que nunca a tivemos? Que, na verdade, foram os outros que construíram este esteriótipo e nos deram de presente?

E se eu dissesse que esse interpretação que se tem de nutrição, para nós, não faz o menor sentido?

E se eu lembrasse que existe uma diferença importante entre "dicas" e "ciência"? E se eu dissesse que escolhemos a segunda opção?

E se eu dissesse que nosso objeto de estudo é interação dos alimentos com o corpo? Que, para discutir a respeito, precisamos de conhecimentos de fisiologia e bioquímica, para sermos capazes de explicar, em um papo sério, aquilo que tantas pessoas buscam quando procuram informação sobre "dieta", ou seguem mussas fitness no "insta"?

E se eu dissesse que, na ciência, a certeza e a verdade absoluta são pura utopia? Mas, que mesmo assim, não nos deixamos cair na tentação dos milagres sem fundamento que tanto nos apresentam?

Será que, se eu dissesse tudo isso, acreditariam mais em nós?

Será que, se eu dissesse tudo isso, sofreríamos menos preconceito daqueles que formaram suas opiniões através de um olhar distorcido?

Será que, se eu dissesse tudo isso os colegas de área - nessa onda do "sem modismo"- , eles perceberiam que não vale apoiar aspirações contra a nossa classe, mas sim disseminar o nosso verdadeiro papel social? Mais ainda, será que perceberiam que, assim como acontece em toda área, cada profissional tem a liberdade para buscar sua linha de atuação e, assim, poderemos agradar os mais diferentes públicos?

Será?





segunda-feira, 30 de junho de 2014

Beleza aos pedaços...

A beleza é uma qualidade naturalmente feminina, diz certo filósofo-autor, que muito respeito. 

Para ele, como contra ponto ao sublime do homem, impera a beleza da mulher.

Com todas suas variações vivenciadas no correr dos anos, e na sua natureza social e cultural, que lhe trás permeabilidade entre as etnias, a beleza feminina segue como atributo de tudo aquilo que, ainda segundo o autor, é bom. (Houve, nas considerações sobre o tema, a simbiótica relação de que o belo é aquilo que é bom.) 

Mais adiante na linha histórica, uma estudiosa-autora que também muito respeito, alavancou estudos sobre o gênero e sua aparição midiática. Através deles, notou uma mulher construída por seus pedaços (barrigas, pernas, lábios, cabelos, olhos...) que, por sua vez, montam o quebra-cabeça de um ideal de beleza. Aquela mesma beleza, "naturalmente" mais próxima à mulher. 

O alerta da autora segue no sentido de que, quando objetificada, a mulher passa a reunir atributos para sua comercialização (aqui no sentido de sua imagem) e, pode ser que, mediante ao conceito construído sobre seu corpo, seja considerada algo e não alguém.

Ainda segundo seus estudos, a autora percebe que este seria o gatilho da violência contra a mulher, do desrespeito no seu trato, e, em uma lente mais ampliada, dos distúrbios de comportamento (relacionado ao consumo - e ao não consumo - alimentar e à prática de atividade física extenuante, ou como necessidade). 

Pois bem, somos muito machistas. Mesmo quem não tem a menor intenção de ser. Mesmo aquele que nunca parou para pensar a respeito. 
E, muito embora eu compactue da premissa de que toda generalização é estúpida, nosso machismo está tão solenemente enraizado que não o notamos.

Não é que é absolutamente normal um par de seios enquadrado em um decote ser exibido para vender cerveja? Perfume? Chocolate? Hidratante para a pele? 

O que seria uma revista feminina, que não um catálogo de consumo de um corpo? 

O queria uma revista masculina, que não a apresentação do modelo construído (mais do que nunca projetado para o prazer do outro)? 

Na relação de belo e bom do primeiro autor (Umberto Eco), somada ao modo de interpretação do corpo da mulher da segunda autora (Jean Kilbourne), me parece que a busca da beleza segue um ideal distorcido - não somente do ponto de vista da suas dimensões e contornos, pois isso já é óbvio - mas, sobretudo, de comportamento e valoração da mulher. 

Não estou atirando pedras... E o julgamento das decisões alheias não faz parte do meu pensamento... 

Tenho aqui, a singela pretensão de compartilhar uma angústia que sinto a cada linda mulher que quer ficar mais magra; a cada jovem cheia de vida que não sai para uma festa para não "estragar" a dieta; a cada criança que é chamada de "gorda" como xingamento e come o bombom escondido, exprimindo sua ansiedade; a cada dona de casa que quer ser "mais bonita" para seu esposo e  sente culpa quando come algo "que engorda"; a cada uma de nós que, preocupadas com a beleza, fazem de seus corpos bens de consumo e nós sentimos frustadas por não atingir os contornos projetados no imaginário social, com o cruel requinte do potoshop. 

Um ideal naturalizado que se torna motivo de ser e estar. De termina o comportamento e estabelece as bases da felicidade.






quarta-feira, 18 de junho de 2014

Quem está comigo?

Há algum tempo – pequeno, se me permite a inferência – noto um aumento significativo de colegas de área que se opõe (ou ao menos tecem comentários contrários) ao “culto ao corpo” tal qual ele nos é “imposto”.

Pois bem.
Que bom.
Que mudança.

 Tomara que vire febre entre nós.
 Tomara que esse movimento seja mesmo genuíno.
Tomara que reflita no conceito, na abordagem e na consulta.

Fico feliz, porém com uma pontinha de receio.

A felicidade, não me é difícil explicar, vem do fato de que esta temática é o coração da minha prática profissional, o que me move enquanto nutricionista e, sobretudo, enquanto mulher. Muito difícil ser e estar nesse universo em que a beleza é o objetivo e a ciência, que tanto prezo, é resumida à ferramenta para sua conquista.

Não é de hoje que sou militante para que o #foco seja ser feliz.

A pontinha de receio, no entanto, advém da generalização, da falta de informação e de um conceito que considero um tanto vazio, mas que aqui cabe com perfeição, da banalização do tema.
Sem dúvida que todos têm o direito de expor seu ponto de vista. Inegável, e é exatamente esta polifonia que torna a vida interessante, cheia de facetas.  No entanto, cabe lembrar que, ao defender um assunto, seja ele qual for, é preciso buscar o conhecimento em vista de abordá-lo com propriedade. Se isso não acontece, a discussão perde a força, “cai na banalidade” e se mistura às tantas outras pobres colocações que surgem por aí.

Assumam a responsabilidade de colocá-lo em pauta!

Que não sejamos inibidos pelos comentários esvaziados, daqueles capazes apenas de dizer “que isso não é realmente importante”, que não passamos de “recalcados”, ou que “é assim mesmo”.  
Toda corrente, tem uma contra-corrente (ainda bem!).


Demoramos tanto tempo para lançar luz ao tema, por favor, não deixemos que ele se torne apenas mais um blá-blá-blá!






quinta-feira, 22 de maio de 2014

Por que acreditamos nessas bobagens?

Constantemente me pergunto se as pessoas acreditam mesmo nessas bobagens...

... Estaríamos todos à mercê das promessas?  

Parece-me que sim. E, ao contrário do que eu pensava, noto isso cada vez mais.

Na prática, funciona mais ou menos assim:
(1)  Algo é escolhido como a bola da vez;
(2) Assim como o ar, se espalha por todos os cantos;
(3) Vira moda, referência e assunto;
(4) Atinge seu auge e, pouco a pouco, vai sumindo;
(5) Eis que o ciclo segue adiante com a próxima novidade... (Ah, o consumo! Ah, a fluidez!)

A linhaça, a chia, o chá verde (branco, vermelho, amarelo), óleo de coco, a gojy... Nem me faça começar, que a lista é enorme. Todos com promessas bastante objetivas, fortemente atreladas à estética (que tem a magreza como sinônimo contemporâneo).  

Da publicação “confiável” (aquela que adora colocar alimentos como “vilão e mocinho”) à blogueira (que só indica os “superalimentos” que a patrocina), estes estão por todo lados. A sua evidência é instigadora e, atropelando as diferenças de gênero, faixa etária, etnia, ou grau de instrução, parece atingir a todos.

Desafiador, não?

O que será que faz uma criatura crer, dia após dia, em promessas milagrosas? Se alguma delas fosse suficientemente verdadeira, porque será que elas não cessam em aparecer? Se o óleo de coco foi milagroso para “perder barriga”, porque emagrecer com a gojy então?
Mas parece que a novidade também nos agrada. Agrada o mercado, sem dúvida - ué, se a dieta da revista fazia secar 4kg em 1 semana, porque mesmo que eu deveria comprar a próxima edição? É preciso renovar. 
Sempre!

Sem a pretensão de discutir neuromarketing (até mesmo por ser, nesse assunto, mera interessada), fica muito difícil seguir com o pensamento sem antes triscar no nome da dopamina. Na minha humilde opinião, ela é uma grande responsável pelo fenômeno.

A dopamina é o neutrotransmissor do “quero mais”. Está envolvida no vício e no condicionamento de recompensa fisiológica. Corpo é bicho e, para estar onde estamos hoje, teve que sobreviver à adversidade, assim, fomos feitos para agir conforme as respostas de prazer: se algo é gostoso, ele será compreendido pelo cérebro ancestral como “bom”, e este é o gatilho para “querer mais”.

Condicionada às coisas boas, a dopamina pode também ser liberada mediante a antecipação de um acontecimento ou de uma situação de prazer. Sim, o pensamento (nunca duvide da sua força!) pode promover uma enxurrada de dopamina.

Considere com atenção... Não é prazeroso pensar que encontrará amigos queridos hoje a noite? Que suas férias estão por vir? Ou devanear sobre o que faria se ficasse milionário da noite pro dia?  

Eis a dopamina-de-pensamento. Que, claro, também pode ser dopamina-de-promessa.   

Não é inspirador ver aquelas fotos de antes e depois? Ou, o corpo livre de imperfeições da modelo que faz uso de tal produto, ou de tal dieta? Não seria ótimo se, engolindo cápsulas ou chás, nos construíssemos de acordo com nossos sonhos?

Pois então...

Dopamina na veia, muitos produtos milagrosos no armário, e “revistas femininas” como livros de cabeceira!


quarta-feira, 14 de maio de 2014

O fetiche-da-restrição!

Na prática de consultório, ao rolar a página das redes sociais, ou como mera ouvinte de diálogos em lugares públicos, me impressiono com o fetiche-da-restrição.

Não é de hoje, eu sei, mas cada vez mais, dia a dia, noto uma constante euforia com as novidades milagrosas da restrição: a dieta sem lactose promete o (popular) “desinchaço”; a sem glúten, promete “tirar a barriga”; a sem carboidrato, promete o emagrecimento imediato; aquela a base de frutas, diz da melhor disposição.... E isso é só o começo!

Acho particularmente interessante o paradoxo que surge desse fetiche. E isso, independe do resultado que se objetiva mas, sem dúvida, torna-se ainda mais claro quando este é estético.  

Pense aqui comigo: ao mesmo passo que se busca a “facilidade” em atingir os resultados (sim, as pessoas não querem emagrecer, mas sim serem emagrecidas), quanto mais árdua for a jornada (desde que ela dure pouco tempo), melhor!

Pois então, me parece que quanto mais restrita for a dieta e mais sem graça forem as opções, mais se vangloria do resultado. Parece que, em algum momento, não sei bem quando, o sofrimento tornou-se premissa para o sucesso, fato este tão bem aceito que, já de antemão fazer dieta ficou ruim.

Lamento.  E muito.

O fetiche-da-privação não apenas propaga uma falsa noção de dieta, como (e ainda mais importante) uma falsa noção de “bons resultados”, fazendo deste fetiche força motriz para a eterna melancolia do consumo alimentar: as pessoas comem cada vez menos, e estão cada vez mais tristes com seus corpos.

Belo favor nos faz, não?   


A nutrição não é uma ciência de fins. É uma ciência de meios.    


sábado, 12 de abril de 2014

AVON: "propagandeando" o padrão de beleza.

Não são apenas os produtos.
Eles estão lá, são a "alma do negócio", mas não são apresentados sozinhos.
Aliás, muito pelo contrário.
A propaganda trás consigo um modelo de conduta, de comportamento, de vida...
Como espelho, reflete aspirações, conceitos e aparências...
E vende, para além do produto, o universo que o contém. Mais ainda, o seu contexto emocional.

Sei que isso não é novidade.
É perigoso, mas não é novidade.
No caso desta propaganda em especial, é uma lástima.

No contraponto ao sublime masculino, Umberto Eco nos lembra de que a beleza é "naturalmente" mais próxima da mulher.
Intrigante e desafiador.
Tamanha foi essa aproximação que parece até uma "necessidade" feminina: a beleza parece ser indispensável para a nossa felicidade.

A magreza, por sua vez, se fez imperativa.  E, sem que notássemos, se tornou sinônimo contemporâneo de beleza.

Sei que isso também não é novidade.
Preocupante, triste, mas não novidade.
No caso desta propaganda em especial, é também o coração da narrativa.

Ao fazer uso do produto, a personagem passa a se sentir melhor.
E, por melhor, entenda-se mais bonita (mais confiante, mais determinada, com mais disposição). Tudo como consequência da beleza adquirida).

Certo.
E não é esse mesmo o objetivo da publicidade? Não se deseja êxito através da aquisição do produto? Não é o seu consumo o grand finale? Então não seria essa uma boa maneira de exibi-lo?

Novamente, quase nada de novidade.
Preocupante, triste, e afogado na espiral da insatisfação (companheira inseparável do consumo, como pensou o caro Lipovetsky), mas não novidade.

Agora, apesar de tudo de ordinário, eis que surge uma superação.
Uma superação no coração da fragilidade de um gênero aprisionado em valores distorcidos de beleza.
Uma superação propulsora de transtornos de percepção corporal.
Uma superação recheada de neuroses.
Uma superação digna de distúrbios de comportamento (alimentares, sociais e de compaixão para consigo mesma).
Por fim, uma superação que propaga uma falsa noção de "dieta", de "resultado" e, mais tristemente, de "motivo de felicidade".  

De fato, cada vez me parece mais claro que, enquanto mulheres, nunca fomos tão livres (em direitos, nas possibilidades e no âmbito profissional). E, no entanto, nunca fomos tão presas (na mais severas das prisões que nos arranca pequenos prazeres em prol de um ideal estético imperativo).

Uma prisão amarga, cheia de culpa, que nos é reafirmada a todo momento, até mesmo quando o objetivo é vender um rímel.








sexta-feira, 4 de abril de 2014

Quem você escolheria?

Não faz muito tempo, escrevi um post sobre um assunto bastante incomodo para mim: a bagunça que temos entre os campos sociais.
Tão incômodo que, além da problemática da minha dissertação de mestrado, é também real motivos de tantos erros alimentares, incoerências dietéticas e lágrimas no consultório... Um incômodo na vida. 

Retomando brevemente o referido post (cuja abrangência foi maior do que eu jamais pudesse esperar), e na tentativa de simplificar a angústia que o materializou: caros, cada macaco no seu galho e cada qual no seu quadrado.

Médico com a medicina;
Farmacêuticos com seus compostos;
Educadores físicos com a prática de atividade física;
Professores com a arte de ensinar;
Nutricionista com nutrição;
E assim por diante...

... Tão óbvio que tenho até vergonha de escrever.

Pois bem.

Por que será que temos, então, médico como referência sobre nutrição em programa (de abrangência nacional)?


Por que será que temos, então, educador físico, prescrevendo (na mesma rede nacional) a alimentação de adultos, crianças e "celebridades"? Fazendo com que o papel da nutrição fique reduzido e simplificado à mera avaliação corporal?


Por que será que temos, então, uma designer gráfico (praticante de atividade física) que oferece dicas de "saúde" nas mídias sociais? (e tantas e tantas outras, menos "famosas" e com menos patrocinadores que nem sabemos...)


... Tão absurdo que tenho até vergonha de escrever.

Há quem diga que se aprende com a vida. Com a experiência.
Respeito. Mas não concordo.

Se fosse assim, todo não seria preciso estudar para advogar, tão pouco para estar com o bisturi na mão em uma sala de cirurgia. 

Mas... Cá entre nós, se o carro quebra, ou o smartphone pára de funcionar, qual é a conduta a fazer? 
Não recorremos a um especialista no assunto?


Por que será que quando é para cuidar da alimentação fazemos por conta própria? 

E, ainda aqui, entre nós, se o carro quebra, escolhe-se consultar o mecânico, ou o técnico de smartphone?

Pois é...





quinta-feira, 27 de março de 2014

Quanto reducionismo o meu.

Lá atrás, quando comecei a me incomodar com a "falsa nutrição" comercializada pelas vias clássicas da comunicação em massa, eu não tinha a menor noção do universo de conceitos, pensamentos e situações que me aguardavam.

Naquele momento, o objetivo me parecia um tanto pontual: encontrar a fronteira entre a ciência "séria" e a "nutrição de revista", visto que, uma vez delimitada, tornaria mais simples a tarefa de colocá-las em perspectiva.

O motivo?

... Uhn...

No limite das minhas possibilidades, doutrinar aqueles dispostos a compreender que nutrição não é uma ciência de fins, mas de meios.

Pois bem, o tempo passou.
A inquietação não era momentânea.

Emprestando palavras de Morin, em seu sentido mais completo, a inquietação foi então expandida e colocada em seu contexto, o que a fez atingir, pouco a pouco, uma bela complexidade (aqui, ainda nos conceitos do pensador).

Explico: a questão abrange muito além da nutrição enquanto ferramenta (comercial) para atingir o ideal de beleza, ela é, sobre o o próprio ideal.

Concordo que possa parecer piégas e simplório (eis que sou mais um alguém se manifestando contra o tão falado "padrão de beleza") e até mesmo hipócrita (uma especialista em nutrição em estética na contra-corrente) mas, na verdade, e justamente por isso, a consideração é ainda mais profunda. 

Sua profundidade não finda no limite de que, enquanto profissional, posso servir como uma via de acesso para a conquista deste ideal, e - como já registrei em outro post - por ter muito medo de torna-lo ainda mais ditador, mas advém, sobretudo (e talvez principalmente), pelo fato de eu também ser mulher, de ter expectativas, de aqui viver e de nesta dinâmica ter sido naturalizada. 

Há poucos dias, o core da inquietação ficou ainda mais claro.
Assisti, quase-que-sem-querer, ao discurso da atriz (recém ganhadora do Oscar), Lupita Nyong'o, ao receber um prêmio pela revista Essence.
Com palavras emocionadas e fortes a atriz discorreu brevemente sobre o fato de não ser uma afortunada representante da beleza. 
Disse de seus anseios e paradoxos enquanto menina e relembrou palavras de sua mãe, que deveriam voar aos quatro cantos do mundo: "Beleza não é algo que consome" (tradução livre).

Ao lembrar das palavras de sua mãe, Lupita reiterou que a beleza que nos sustenta não está no que se consegue observar, mas sim na compaixão. Compaixão, vejam vocês, para com os outros e consigo mesma.

Pois então...  No caso da atriz, a condição que a faz destoar do padrão de beleza, não é o peso,tão pouco seus contornos, é a cor da pele.
Sua compaixão para consigo mesma a fez - e certamente a faz diariamente - bela.

Lembra da inquietação inicial?


É...

Por mais sofrido que seja, no final das contas, nas mentes femininas, se o padrão não é atendendo, não se é feliz. Ah... E como ele é ditador!

São tantas as barreiras que determinam a felicidade que nem saberia por onde começar, e teria muita angústia de onde poderíamos terminar. 
Se não é o peso, é o tamanho do busto. Se não é o tamanho do manequim é a cor da pele. Se não são os lábios, são as sardas. Se não são os quadris, é o cabelo. Se não são os quilos a mais, podem ser os quilos a menos. Se não é nada disso, pode ser a idade...

Oras... 

E eu, achando que era só uma questão de defender a qualidade da divulgação científica! Quanto reducionismo o meu.



http://www.upworthy.com/oscar-winner-lupita-nyongos-speech-on-beauty-that-left-an-entire-audience-speechless