quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Carta aberta às queridas!

Querida, 

Não se cobre não.
Nós não somos como "elas".
Nossos afazeres diários não se resumem na proficionalização do "ser bela". 
Não saímos de casa apenas após os retoques do Photoshop e, já que ficou popular: somos, na verdade, sem filtro e sem make

Não se cobre não. 
Se não deu para ir na academia hoje. Tudo bem! 
Se não deu para fazer a dieta perfeitinha. Tudo bem, também! 
As vezes, tudo o que precisamos é um tempo, curta-o com carinho. 
Se não deu para ter um tempo? Não se preocupe, mas trate de arrumar tempo para seu tempo (nem que a aula de jump fique para amanhã)! 

Não se cobre não. 
A roupa, em um corpo de verdade, sempre vai cair diferente do que a do manequim. 
As vezes, será mesmo preciso apertar aqui, diminuir acolá, pegar um número maior, um menor...
Cada corpo tem sua forma, sua magia e sua graça: felizmente não somos um padrão único! 

Não se cobre não.
A mocinha também vai envelhecer. 
A senhora também já foi mocinha. 
A vida não é sempre igual, e cada momento tem seu contexto: vale mais a pena aproveitar o de hoje, do que viver lembrando do que se teve, ou viver na expectativa do próximo verão. 
O pedaço de bolo de aniversário que você não aproveita hoje pode te ajudar no seu #foco, mas pode te fazer falta nas suas memórias da vida... E, certamente, da de quem o ofereceu.
Não se cobre não, a vida brinda à intempérie!

Querida, se você quiser ir malhar, comer "direito", usar suplemento, faça tudo com prazer (e com responsabilidade)! Aproveite seus treinos, cultive seus esforços, faça suas escolhas e colha seus resultados com alegria. Lembre-se que todo excesso não é bem vindo...

Lindona, se você não quiser treinar hoje, nem amanhã, nem depois... Tudo bem! Você não será menos por isso. Lembre-se que o corpo gosta do movimento, e que um passeio no parque pode ser bem prazeroso - nem que seja de final de semana, porque eu sei, parece que o tempo some! 

Não se cobre não. 
Não é preciso estar como os outros querem (ou como você quer que os outros te vejam) para ser feliz. Diferente do que as revistas femininas, os blogs fitness e todo-o-resto-do-universo nos falam, nossa felicidade não se resume a isso e não temos o dever de ser "belas" (seja lá o que a "beleza" significa e as características que demande). 

Não se cobre não!
Se me permitir a dica:
Durma, trabalhe, passeie, coma, cuide de você e dos seus, sorria, movimente-se... Faça a vida como você gostar, como preferir! 
Tenha cor nos seus dias e nos seus pratos. Palpe sua mama. Defenda suas ideias. Respeite você mesma, o próximo (e a próxima). Curta a seu modo, sem culpa das suas escolhas (a "liberdade" é justamente isso). 

Por fim... De verdade, não se cobre não! 


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Ela é gorda, e agora?

A representação do corpo feminino muito me intriga. Na capa da revista, na novela das oito, na propaganda (de maquiagem, de roupa, de carro, de cerveja...) e, sobretudo, na angústia relatada da imagem que se tem quando em frente ao espelho. Torno-me particularmente curiosa quando a discussão sobre o tema atinge a questão do gênero, não apenas enquanto representação (da mulher), mas como o outro (o homem) a observa. 

Creio que o olhar masculino em relação às representações da mulher muito diz dos dos valores da sociedade e da cultura em que se está inserido - talvez não por se tratar de homem e mulher (já que gostamos tanto desta distinção) mas por representar, de fato, o "olhar do outro". 

Pois então, é com este pensamento e neste contexto que precisei escrever sobre um vídeo simples, destes que encontramos por acaso na internet, mas que mexem com a gente de algum modo... Que incomoda. 

Dois colegas universitários, em uma pesquisa a cerca das redes sociais, questionaram sobre os receios que as pessoas têm frente a possibilidade real do encontro com quem só é conhecido online. Homes e mulheres expressaram "medos" diferentes. Drasticamente diferentes, devo dizer.

De modo geral, as mulheres têm medo de que seu online date seja um serial killer, um louco, um alucinado, que possa lhe fazer mal de algum modo (principalmente um mal físico).

De modo geral, os homens têm medo que sua online date seja gorda. 

Sim. Medo de que a mulher com quem trocou mensagens, que notou certo interesse em comum, de quem já viu fotos de perfil, seja, na vida real, "alguém gordo".

Com este conhecimento, os dois estudantes resolveram filmar a reação de representantes de ambos os gêneros frente ao encontro com seu online date mais pesado do que nas fotos da rede social. 

Para isso, pediram a um homem e uma mulher, que marcassem encontros através de uma rede social para solteiros, e fossem socializar com seus pares usando uma maquiagem-de-excesso-de-peso. O resultado? Ah...

Não gosto de "defender" um lado e atacar o outro - até porque não creio que o problema está em um lado só e, talvez antes de tudo, que homens e mulheres ocupem lados opostos na vida - mas, para fins de coerência, preciso considerar aqui a distinção de gênero. 

Os homens, arrepiados com seus grandes pesadelos de ter um encontro com uma mulher gorda, não esconderam a confusão entre a pessoa que acreditavam que veriam e a que estavam de fato encontrando. Todos fizeram referência explícita ao peso da moça. Muitos se mantiveram inquietos, desconfortáveis e distantes. Todos a deixaram sozinha na mesa do café. Um deles, nem sequer sentou-se com ela. Outro, disse que era casado. Outro, que não gostava de "ser enganado". Outro pediu licença para ir ao banheiro e não mais voltou.

As mulheres, ao se depararem com um homem bem mais pesado do que nas fotos do perfil social, deixaram transparecer certa confusão no reconhecimento do rapaz, mas o comportamento foi bastante diferente. Todas o acompanharam no sofá, conversaram e sorriram. Uma o acompanhou no café. Outra, aceitou a brincadeira de comparar o tamanho das mãos, tocando a sua na dele. Outra, o deu um beijo na boca. 

Temos então aquilo que tanto falamos do preconceito à pessoa com excesso de peso. A fobia masculina superou a educação e o respeito para com o próximo. Posso estar errada e sugestionada com meus próprios pensamentos... Mas, uma vez que a mulher é reduzida ao seu coro, se ele não agradou, ela deixa de ser interessante, e assim, não importa se ela vai ficar lá sozinha, sentadinha na mesa do café.

Creio verdadeiramente que as generalizações são falhas, e que as pessoas, a despeito do gênero, classe social e cultura, são únicas - que algum homem poderia não se importar com  o excesso de peso da moça e que alguma mulher poderia se importar com o excesso de peso do rapaz... Mas, o que a experiência reafirmou, foi que o peso é (sim) uma questão social e, quando considerado com o viés do gênero, se torna indiscutivelmente determinante. 

Tristemente, a mulher segue reduzida à seu corpo...



https://estilo.catracalivre.com.br/modelos/experimento-explora-a-rejeicao-que-pessoas-acima-do-peso-sofrem/