quarta-feira, 27 de julho de 2016

Paciência e prudência: virtudes que não temos mais.


"Quero secar."
"Quero um tratamento de choque."
"Preciso ver resultado rápido, se não desmotivo."
"Essa gordura precisa derreter."
"Tenho um mês para caber no vestido."
"Meu treino é tão bom que me faz vomitar."

Ah essas nossas necessidades de hoje em dia...

Permaneço apoiada no discurso que nosso corpo é bicho - não é mecânico, é metabólico.
E ao dizer isso, o que de fato estou considerando é que ele tem o seu próprio tempo.
Ademais, por ser bicho, o corpo literalmente vive para se manter vivo. 

Corpo tem medo de morrer e para lutar contra isso desenvolveu um arsenal de alternativas para superar a adversidade, driblar o stress e reverter prejuízos. 

Pois bem, e então é a partir deste conhecimento simples, que penso nas nossas virtudes difíceis de encontrar: paciência e prudência. 
No cuidado com o corpo é preciso dar-lhe seu tempo, e certamente, agracia-lo com conforto. 

Em momentos de crise você gasta ou guarda? 
Pois é, o corpo também. 

Veja só... Se o corpo tem regras próprias, me parece mais inteligente estudá-las para que sejam empregadas a nosso favor, do que ficar berrando aos quatro cantos os nossos caprichos. 
No final, e isso a evolução muito bem nos ensinou, quem acaba ganhando é a biologia, sempre.

Bastante lógico, não? 
Uhum, mas desde quando aprendemos a esperar...?

As leis do corpo - justamente por preservarem a vida - não nos permite certos "resultados" em um mês, dois, três... Como o corpo está mais preocupado com a manutenção da vida do que com qualquer outro anseio pessoal, ele se limita a passear enquanto as expectativas o querem correndo. 
Pois é, falta paciência.

E então, na angústia de ver "o resultado", tira-se comida, aumenta-se atividade física, troca arroz e feijão por salada e jantar por shake. Não tem mais o vinho no sábado à noite, nem a pipoca no cinema, nem o bolo da tarde. Às vezes, não tem nem molho na salada, nem manteiga no pão, às vezes nem pão, nem leite, nem nada... 

Reduz, corta, seca (não só a comida, mas a felicidade). E então, o resultado começa a vir - ou vem. 
Mas, note só, vendo aqui de fora, a minha vontade é perguntar: "é mesmo possível viver a vida assim?". 

Pois é, falta prudência.

O que será que o corpo, aquele mesmo que queria preservar a vida a qualquer custo, vai entender depois de tanta falta de paciência seguida da falta de prudência? 
... Lhe digo: "quem manda aqui sou eu, e eu, meu caro, tenho paciência e prudência de sobra para fazer do meu modo.".

Vem o rebote, o resgate, o "efeito sanfona". Vem a desmotivação, a tristeza e a sensação de impotência. 
Vem culpa.

Mas já sabíamos, não é mesmo? 
Tem efeitos que são naturais, não adianta brigar contra - mais vale ter paciência e prudência para dribla-los.

Que tal ir com menos sede ao pote?
Que tal dar conforto ao corpo?
Que tal parar de viver por um objetivo e de fato viver? 
Que tal ter um pouco mais de paciência e prudência?