Jacar, verbo intransitivo contemporâneo, que significa
“grandes erros alimentares”, “saída da dieta” e “comer mais do que devia”.
Seu registro de origem está no dicionário
Força-Foco-Dedicação, que também comporta expressões como Barriga Chapada,
Gordice e Dia do Lixo – todos advindos de um estilo de vida com poucas
permissões e muita (muita) culpa.
Um estilo de vida segregador, próprio para likes e hashtags. Feito para ser visto no espelho, na selfie e no Insta. Um
estilo de vida que propõe marmitas em festas, ovo com batata doce no meio da
tarde e Whey Protein de café da
manhã. Um estilo de vida repleto de nãos e endossado por profissionais da saúde,
celebridades, sub-celebridades e quem diria, por profissionais-da-saúde-celebridades.
Um estilo de vida que vive com medo de cair em tentação e que encontra nos eventos
sociais não só os amigos, mas sim, verdadeiros problemas-de-dieta.
Uma proposta de vida baseada no No Pain No Gain que, espertamente camuflada de vida- saudável, segue
firme nos agachamentos e supinos nossos de cada dia, construindo ao mesmo
passo, viveres narcisistas e corpos Secos (cujas definições também se encontram
no mesmo dicionário Força-Foco-Dedicação).
Não obstante, Jacar é uma expressão que convive nos diálogos
daqueles que contam calorias, vivem na cetose metabólica por uma dieta
carbofóbica ou de longos jejuns, daqueles que treinam à exaustão e forçam uma
lipozinha mesmo estando abaixo de 16% de gordura corporal. Jacar é sinalizador
da supremacia do corpo esbelto, sarado, cultivado “naturalmente” na vida de
restrições, onde não há sequer espaço para a liberdade (de atitudes, de
comportamento e do tamanho da barriga).
Ainda mais interessante, é a ampla gama de variações que a
Jacada pode ter, sim, pois dentre a sua escala de cores, à esta denominação
pode responder, desde o consumo de um mero pedaço de pizza, de uma taça de
vinho, do bolo no aniversário do colega, do bombom que foi uma querida surpresa,
à extravagância desmedida de um consumo alimentar compulsivo – mas, na filosofia
mandante, tudo é tratado sob o mesmo tom e referido como “Ih, jaquei”. Não à
toa, faz-se vista grossa aos problemas que podem estar enraizados no verbo,
que, como pretenso participante do estilo de vida saudável, pode camuflar
sérios e importante distúrbios (corporais, comportamentais, alimentares,
sociais e psicológicos).
Dentre tantos verbos disponíveis ao uso, Jacar me soa feio,
mal, descabido e pretensioso. Mas sei lá.