sexta-feira, 26 de outubro de 2012

6 weeks to OMG: acabei com meu corpo!

Já faz um tempo tinha ouvido falar da "dieta milagrosa" de Venice Fulton.

A primeira vez que ouvi, estava no supermercado, aguardando na fila, e duas senhoras comentavam: "Mas perde mesmo, viu? Você sooooooofre, fica com fome, mas vale a pena, porque tem resultado.".

O resultado prometido pelo autor (que chama Poul Khanna e utiliza Vince como seu pseudônimo) é um emagrecimento acelerado de até 10kg em 40 dias. Ainda que sem explicações científicas plausíveis e assumindo valores (porcentagens, inclusive) da "boca pra fora", o livro virou best seller, e carrega no seu próprio título uma excelente jogada de marketing (quem não quer ser a mulher mais bonita? Mais bonita que todas as suas amigas...).

Em um julgamento ácido, bastante particular, creio que o autor faz uso de pseudônimo como um avatar, criando um espaço público que pode falar o que bem quiser e, com muito sofrimento, provocar perda de peso (não necessariamente o emagrecimento) de muitas mulheres.

Acredito, realmente, que seja possível perder peso mediante a dieta proposta. Se manter em um período de inanição durante 40 dias não é o suficiente para matar, mas força o corpo a fazer uso dos estoques energéticos e, portanto, diminuir em tamanho (e em peso, já que "corpo pesa"). O problema é o que depois...

Para começo de conversa, fazer atividade física em jejum (no caso, sem café da manhã), não força o corpo a queimar mais gordura, estimula a queima de músculo. Diferente do que o autor prega, o corpo não é estúpido, e tem medo de morrer, portanto: em uma situação de stress metabólico (como a atividade física) que promove gasto de energia, se não houver carboidratos disponíveis (fonte principal para o gasto) a primeira escolha será o músculo e não a gordura. Para usar gordura como fonte de energia é preciso uma série de ativações próprias que, via de regra, não acontecem no jejum.

Se você não tem grana para pagar a conta de energia, você apaga a luz ou a vela? Pois bem, o corpo também. Se não há energia suficiente para sobreviver, do que será que o corpo se desfaz: do músculo que gasta energia, ou da gordura que é um estoque econômico? Claro que será o músculo...

Mas é verdade. O autor está certo. Se o objetivo é perder peso, é isso mesmo que tem que fazer. Músculo pesa 4 vezes mais do que a gordura. Se o que se perde é músculo, a perda de peso é, realmente mais intensa.

O que deixa de ser mencionado é que músculo gasta 8 vezes mais energia do que a gordura. Assim, se o que está sendo eliminado do corpo é o músculo, o gasto deste corpo será sensivelmente menor. É uma boa maneira de adiantar o envelhecimento e pisotear no metabolismo (todo mundo já culpa ele mesmo, não?).

Ademais, outras dicas como permanecer longos períodos em jejum e consumir calorias a baixo das necessidades diárias também são condutas que forçam a diminuição de "corpo" (por diminuir massa magra), mas não de gordura.

Ao final da dieta, 10kg mais leve, e com gasto energético de uma vovozinha, a pessoa está pronta para recuperar seu peso de volta, e com um detalhe: se antes ela tinha um metabolismo que lhe gastasse 1000 calorias por dia, hoje, com esta redução, não gastará tudo isso e, portanto, se comer o mesmo que comia antes, engordará (ou seja, não só ganhará peso, como este peso será de gordura, aquela mesma que não gasta energia para se manter no corpo). A troca foi "excelente": músculo por gordura.

Claro que não tive tempo (nem tão pouco paciência) para explicar isso às senhoras do supermercado. Acho que, novamente em um comentário bastante ácido,  algumas pessoas tem mesmo que sofrer muuuuuuuuuuuito fazendo dieta louca. É que, honestamente, é muito pior seguir um acompanhamento nutricional de qualidade, com um profissional que sabe do que fala, do que assumir a inanição por conta de um livro.

Vai que o profissional é bom mesmo, acerta na mão e te deixa sofrer menos... Qual a graça?

http://vogue.globo.com/beleza/6-weeks-to-omg-a-polemica-dieta-que-promete-eliminar-10kg-em-40-dias/