Jovens meninas
da Mauritânia são mantidas, desde a primeira infância, em uma rigorosa dieta.
Apesar de muitas não apreciarem o paladar – nem tão pouco o volume que lhes é
oferecido – a promessa de uma vida melhor reside na aparência física.
Em um país castigado pela pobreza, o ideal de
beleza feminino não poderia ser outro: o peso em excesso. Os efeitos no corpo,
frente a busca deste ideal, não são sutis e muitas destas mulheres sofrem com
os já conhecidos impactos desta condição.
Há quem se indigne com o comportamento
destas famílias, e quem questione o sofrimento e a metamorfose física que estas
meninas se submetem. Há, mais ainda, quem ache absurdo o prejuízo à saúde decorrente
de uma conduta “bárbara”, “ultrapassada” e, por que não, sexista.
Frente a qualquer suposição quanto
às práticas destas jovens, proponho o seguimento da leitura.
Jovens meninas de São Paulo, Nova
Iorque, Paris e Tóquio são mantidas, desde a primeira infância, em uma rigorosa
dieta. Dieta esta determinada, sobretudo, pelos seus ideais estéticos. Modelos
familiares e midiáticos buscam – e lhes apresentam constantemente – mulheres magras.
Apesar de muitas não apreciarem as regras de uma dieta restritiva – nem tão
pouco se sentirem satisfeitas com o volume que lhes é oferecido – a promessa da
felicidade reside na sua aparência física.
Dentre os modelos definidos através
da globalização, o ideal de beleza se constrói único, a despeito das
características individuais, da etnia e até mesmo da faixa etária: longilíneas,
alvas e jovens. Os efeitos no corpo, frente a busca deste ideal, não são sutis
e muitas destas mulheres, sofrem com dietas drásticas, exercícios extenuantes e
procedimentos invasivos.
Guardadas as devidas diferenças
culturais, a mulher se posiciona em constante proximidade com a beleza e se
sente na obrigação de cultivar um corpo baseada em determinantes exteriores –
que talvez não sejam os mais prazerosos ou, tão pouco os mais saudáveis.O
cultuo a uma beleza de “difícil acesso” se resume como sorte de poucas e desejo
de muitas. Estas muitas, invariavelmente infelizes com seus corpos.
Quando não se medem esforços para
atingir objetivos – estes bastante caprichosos – os resultados podem ser
drásticos, assim como é para a saúde das senhoras da Mauritânia e, por mais que
nem sempre seja considerado, das mulheres que travam uma busca desenfreada por
uma magreza que não lhes pertence.
A inserção na cultura turva a
interpretação e, se há quem condene as práticas culturais da Mauritânia, que
buscam o ganho de gordura, certamente há quem condene as das meninas de São
Paulo, Nova Iorque, Paris e Tóquio que buscam uma magreza sem saúde. Será que
apenas as africanas estão submetidas a uma cultura bárbara, ultrapassada e
sexista?