Jornal da Band, dia 17 de setembro de 2013.
Mais uma reportagem sobre dieta. As chamadas "dietas da moda" nas suas mais absurdas variações. mulheres que se unem via rede social para se dar força trocar receitas de "sucesso".
A repórter, em uma conhecida livraria da capital paulista diz: "O mercado da dieta cresce com grande rapidez, a cada mes, seis livros são publicados sobre o tema".
Veja bem, com todo o meu olhar crítico - confesso que, por vezes, crítico para além da conta - não acho ruim o uso das redes sociais e da tecnologia virtual para difusão da nutrição, tão pouco, para incentivar, dar exemplos e atuar como elemento motivador. No entanto, questiono - e peço a reflexão daqueles que aqui me lêem - a tênue linha que separa a nutrição do "milagre da nutrição".
Nutrição é uma ciência médica. Tem como base disciplinas como a bioquímica e a fisiologia. O profissional - ao menos os bons profissionais - estudam muito mais do que os quatro anos de faculdade. Escolhem uma área do campo e se especializam no conhecimento. Para discutir nutrição, por assim dizer, é preciso conhecimento, estudo e muita dedicação - ciência nova é encantadora e dinâmica, que requer constante atualização.
O "milagre da nutrição", por sua vez, é aquele vendido na revista, no site de emagrecimento e na televisão. É aquele que baseado no "diz-que-me-diz", no "que-fez-fulana-emagrecer-horrores", é cheia de regras e restrições com pouco fundamento científico. É aquele que, cheia de fotos coloridas, encanta a mulher que quer emagrecer, e determina um padrão de beleza as custas de muito esforço e sofrimento. É "uma pílula mágica", é a "dieta da sopa", "dieta da chia", "dieta do gengibre"... Não que a sopa, a chia e o gengibre não sejam bons - e no limite, auxiliadores de perda de peso - mas não são exclusivos, nem tão poucos suficientes, para a boa nutrição. No "milagre da nutrição", as normas estabelecidas são doutrinas, por vezes, aceitas sem a devida explicação cientifica, repletas de explicações que satisfazem pois prometem o que querem que seja prometido: quem não quer uma fruta que digira os alimentos, uma cápsula que queime gordura, ou uma semente que diminua o apetite pelo doce?
A nutrição, temos em consultório. Construímos sobre os pilares da relação profissional-paciente (ou cliente). Consideramos as diretrizes da ciência, os hábitos alimentares e, não menos importante, a individualidade (de vida, de gosto, de crenças e, porque não, de metabolismo).
O "milagre da nutrição", por sua vez, esta por aí... Nas redes sociais, na revista, no papo com a amiga, no livro de ontem, de hoje, de amanhã... Se expressa - e se faz - como o "mercado da dieta".
Cabe a cada um escolher no que quer acreditar e em qual conduta confiar - e seguir. A revista precisa ser vendida - assim como o livro - e, para isso, não são poupados esforços (tão pouco promessas). Não é porque está publicado em letras bonitas em um papel brilhante que expõe a mais absoluta verdade. Pode ajudar, componde atrapalhar.
Será que, se os consumidores do mercado da dieta, caso escolhessem a orientação profissional e se dedicassem com a mesma disposição que têm nas grandes restrições - e nas regras dos "milagres da nutrição" - não colheriam melhores resultados? Ou, ao menos, resultados que durassem mais tempo do que o intervalo entre a última e a próxima publicação milagrosas da nutrição?
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