Sábado, 8:20hs da manhã, laboratório de exames médicos.
Senha, cadastro, perguntas e respostas, espera - longa espera.
Do meu lado, um jovem rapaz inquieto. Sacode as pernas, balança os pés, estala dos dedos, os punhos e, em um gesto aflitivo, o pescoço. Ao seu lado, uma senhora lhe pede paciência, faz um carinho no seu joelho e, timidamente, lhe lança um sorriso (daqueles que só mãe consegue oferecer em dada situação).
Mais tempo passa.
O rapaz, tira o boné, passa uma mão no rosto, olha o relógio. Ostentando seus (muitos) músculos, passeia pela sala de espera e, voltando-se novamente à senhora, diz: "não posso mais, estou catabolizando mãe, eu preciso comer!"
A senhora: "Filho, fique calmo, mais uns minutinhos já vai para o exame..."
Os músculos: "Quero ir embora!"
A senhora, de modo agridoce: " Hoje não temos escolha. Se você não tivesse usado aquelas seringas, não estaríamos aqui para refazer os exames."
Os músculos: "Ah não, isso de novo não..."
A senhora: "A médica disse que..."
Os músculos: "Eu precisava crescer rápido... Já disse que eu tinha que estar 'trincado'' em Porto..."
Parei de ouvir.
Ou me fiz parar de ouvir.
Mais ainda, talvez tenha me perdido nas minhas considerações a respeito...
O corpo que é usado como roupa.
O corpo construído de forma hipócrita: que apresenta uma saúde que não tem.
Uma composição corporal que não só depende de disciplina no treino físico, como também requer uma clausura psicológica - e, claro, de ampolas de anabolizantes.
Que corpo você quer vestir hoje?
E amanha?
... E quando tiver 80 anos?
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