Desde que vi a primeira foto – a Sarah Stage de barriga-grávida-definida, de calcinha, em uma selfie no espelho – fiquei inquieta, naquela
angústia que normalmente me motiva a escrever. Iniciei o texto muitas vezes.
Mas nunca cheguei ao fim. Busquei mais fotos, vi “notícias” a seu respeito, li
e re-li os comentários e, apesar de permanecer inquieta, não sabia exatamente
aonde meus pensamentos ancoravam.
Eis que passou um tempinho, e me deparei com a foto da Bella
Falconi grávida – de perfil, exibindo, também de calcinha, uma barriga -grávida-definida em mais um selfie de espelho. Na mesma angústia, busquei mais
informações, vi mais fotos, li os comentários e tudo-o-mais. Neste exercício de
busca notei que a verdadeira angústia – diferente do que retratado nos
comentários – estava justamente neles, no impacto que as tais fotos haviam
causado.
Dentre os comentários, consegui notar três espectros
diferentes: (1) aqueles que criticavam, afinal “naquela barriguinha o neném
deveria estar espremido”; (2) aqueles que criticavam quem criticava, sob o
argumento de que “se ela está saudável ok”, e “quem critica é recalcado”, e;
(3) os elogiadores comedidos, que aplaudiam a exposição feminina.
Isto posto, notei que a problemática real não está na
conduta, mas na exposição.
Não está na escolha pessoal, mas no exemplo.
Não está na mulher (em si), mas no que se espera dela.
Não está na fotografia, mas no contexto.
Não está na crítica nem no “recalque”, está no narcisismo e
na qualidade de capital que o corpo tem.
Na bem da verdade, o que deveria importar mesmo é a saúde
(da mãe, da criança, da sociedade) e a felicidade (da mãe, da criança, da
sociedade), mas preferimos nos aprisionar em um moralismo de exposição – que é
tão de fachada quanto uma selfie de calcinha no espelho.
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