A proximidade da ciência da nutrição com a vida cotidiana faz dela relevante e de grande interesse social, fato este que, facilmente, assegura a sua divulgação. A nutrição, assim como toda a ciência, depende desta divulgação para que possa cumprir seu papel social. De nada vale uma ciência reclusa aos laboratórios, na forma de um conhecimento sem prática.
Enquanto material informativo, a nutrição agrada seus divulgadores, que notam seu potencial em despertar a curiosidade popular. Esta sinônimo de sucesso de vendas.
Sim, somos capitalistas, precisamos de dinheiro e visamos constantemente o lucro. Os veículos de comunicação, a despeito de seus preceitos enquanto "informadores da vida" são, sobretudo, empresas. E empresas buscam o lucro. O lucro é possível mediante a venda de seus produtos. Neste caso, produtos culturais. Até aqui nenhuma novidade.
O ponto de tensão, no entanto, se revela na qualidade da informação divulgada e, ainda mais intrigante, na sua construção discursiva.
Ao se dizer divulgador científico, o veículo de informação se assume "confiável". A credibilidade social aumenta de acordo com a abrangência que o veículo promete, inviabilizando o questionamento da veracidade das informações que divulga.
Pois é, qual é o profissional que consegue se opor a força de uma divulgação científica mal feita? Se está na revista... Deve ser verdade. O enfraquecimento da conduta (e até do conhecimento) do profissional é inevitável.
Sem a ousadia de conflitar com "as pesquisas" e "os estudos" citados na matéria sobre as "novidades" da polêmica do consumo de carboidratos a noite, o inconveniente está antes mesmo da leitura de seu corpo. A manchete, digna de um jornalismo cor-de-rosa, incita uma informação que nada tem de verdadeira.
"Carboidrato a noite? Está liberado!" - Francamente. Há um oceano de distância entre a possibilidade de consumo e a completa liberação. Além da "novidade" para a sociedade - já muito acostumada com a dicotomia dos "pode" e "não pode" da própria divulgação científica - a "liberação" soa como um grande PODE!
Veja bem, não estou dizendo que "não pode", aliás, sou avessa às orientações totalitárias - é preciso considerar a individualidade metabólica dos homens - mas, honestamente, quero ver um indivíduo consumir, de modo "liberado", os carboidratos que ilustram a matéria atingir suas metas pessoais de peso e medidas.
http://saude.abril.com.br/edicoes/0361/nutricao/carboidrato-noite-esta-liberado-735611.shtml
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