“Doutora, eu preciso perder peso. É sério, não é por estética,
é por saúde.”
Sim, mas claro. Nunca pensei diferente disso... Mas porque
será que o senso comum insiste em fortalecer esta dicotomia?
Desculpe, mas é inegável o valor do bonita-se-sentir. Estar esteticamente
satisfeita é bom. E embora aqui caiba a longa e árdua discussão do entrave
entre “ser bonita” e se “sentir bonita”, no duelo de insatisfação gerado pelos
ícones de beleza – a tal da beleza inatingível, hoje, o foco é outro: a
preocupação com a saúde. Ou a preocupação que se diz ser com a saúde.
A obesidade é sabidamente – e constantemente – associada às doenças.
Quando a circunferência do abdome é acima de 88cm, quando o índice de massa
corporal ultrapassa 30kg/m2, a gordura corporal maior do 27%... Indicadores
não faltam para determinar a questão, tão pouco seus efeitos secundários.
Longe de mim negá-los, no entanto, que atire a primeira pedra
o nutricionista que nunca teve um paciente com estes indicadores e uma saúde,
no limite, nor-mal. Eis a beleza das ciências médicas, não há regra sem exceção.
O que me espanta – me indigna e me preocupa – é o outro lado
da moeda: a magreza sem saúde. E, me desculpem novamente, o “mundo fitness” sem
saúde – e o turbulento ideal estético que bate de frente com o bem comer.
Aos meus olhos, este lado da moeda é ainda mais perigoso do
que o sobrepeso ou a obesidade, pois é socialmente aceito. Mais ainda, é socialmente
desejado. Há sempre quem pegue no pé da gordinha que come biscoito de lanche da
tarde, mas para a magrinha, chovem elogios (ou críticas invejosas – que neste
caso não contam, visto reforçam ainda mais o core da questão!).
Será que reparam que, talvez, a gordinha faça uma bela caminhada
após o expediente e que consuma três frutas diferentes ao dia? Será que,
talvez, a magrinha complete as necessidades diárias? Será que seu
iogurte desnatado é mesmo suficiente?
Sem julgar... Como disse (e acredito mais que tudo) o
universo é cheio de exceções e a beleza está, justamente, na diversidade!
Meu maior medo – abro aqui meu coração - é o consciente coletivo
deturpado que pode estar sendo (preciso aqui do gerúndio) criado. O discurso de
profissionais da área (e daqueles que não são da área – e muitas vezes nem área direito tem) pode não apenas incentivar, como também promover a expansão
da uma dada... Des-nutrição. Esta, por sua vez, camuflada pela vedete estética da
magreza.
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