terça-feira, 15 de julho de 2014

Desculpe, mas isso não é nutrição!

Não foi só uma vez... Nem duas... Nem três.

É significativo - e muito triste - o número de vezes que me deparo com premissas desafiadoras direcionadas à minha prática profissional. Não à minha propriamente dita, mas àquela que escolhi como minha.

"Quero estar longe de um nutricionista!", "Com tudo que já ouvi de nutrição, quero passar longe de um!", "Não quero ninguém me dizendo o que posso ou não posso comer!", "Eu já sei o que devo fazer!"... Que aperto no coração, que dor que me dá!

E se eu dissesse que não somos isso? Que não estamos aqui para ditar regras, traçar metas e ajustar manequins?

E se eu dissesse que não somos fiscais? Que nosso objetivo por aqui é a militância pelo bem comer? Que eu, nem se quer, uso os termos "pode" ou "não pode" nas minhas consultas?

E se eu dissesse que não temos essa pretensão? Que nunca a tivemos? Que, na verdade, foram os outros que construíram este esteriótipo e nos deram de presente?

E se eu dissesse que esse interpretação que se tem de nutrição, para nós, não faz o menor sentido?

E se eu lembrasse que existe uma diferença importante entre "dicas" e "ciência"? E se eu dissesse que escolhemos a segunda opção?

E se eu dissesse que nosso objeto de estudo é interação dos alimentos com o corpo? Que, para discutir a respeito, precisamos de conhecimentos de fisiologia e bioquímica, para sermos capazes de explicar, em um papo sério, aquilo que tantas pessoas buscam quando procuram informação sobre "dieta", ou seguem mussas fitness no "insta"?

E se eu dissesse que, na ciência, a certeza e a verdade absoluta são pura utopia? Mas, que mesmo assim, não nos deixamos cair na tentação dos milagres sem fundamento que tanto nos apresentam?

Será que, se eu dissesse tudo isso, acreditariam mais em nós?

Será que, se eu dissesse tudo isso, sofreríamos menos preconceito daqueles que formaram suas opiniões através de um olhar distorcido?

Será que, se eu dissesse tudo isso os colegas de área - nessa onda do "sem modismo"- , eles perceberiam que não vale apoiar aspirações contra a nossa classe, mas sim disseminar o nosso verdadeiro papel social? Mais ainda, será que perceberiam que, assim como acontece em toda área, cada profissional tem a liberdade para buscar sua linha de atuação e, assim, poderemos agradar os mais diferentes públicos?

Será?





2 comentários:

  1. Eu não sou um nutricionista, porém como cliente eu já me senti julgado pelo menos umas quatro vezes no atendimento, além disso, me cortaram os alimentos que eu mais gostava, então decidi não ouvia-la, simplesmente a ignorei e continuo tendo uma boa educação alimentar. Acho que isso deixa claro a minha insatisfação com uma nutricionista. Mas a maior crítica que eu poderia direcionar a um(a) nutricionista não se trata só dos impedimentos do que posso ou não posso comer, mas da atitude nada profissional de alguns, por considerarem que nós todos como indivíduos somos "leigos na assunto quando se trata de alimentação", assim como vocês, todos nós temos habilidades de estudar e saber através de fontes confiáveis o que podemos consumir ou não, o assunto saúde é algo tão em alta hoje em dia, que é impossível não sabermos de algo que uma nutricionista já tenha dito ou comentado por aí (mas é claro, existem sim fontes livres e gratuitas pela internet, tanto nutricionistas, como nutrólogos passando informação para nós pela rede a fora). Mas isso não significa que a área está prejudicada, muito pelo contrário, isso é que dá mais margem ao assunto e ao interesse coletivo pela busca da melhor saúde. Mas o que é a melhor saúde? O nutricionista que não respeita ou não escuta seu cliente, é no mínimo um profissional descartável. Para oferecer um diagnóstico preciso e colaborar com a alimentação do indivíduo de forma positiva e consistente, é preciso tratar cada um com uma certa individualidade, e lógico, usar de todo o seu potencial e conhecimento técnico para não ferir as vontades do seu cliente. Não se trata só de ter estudado 4 anos para se ter habilidade com os alimentos, é preciso conhecer não só o indivíduo que está sendo tratado, não só os métodos interpessoais, ou oferecer uma simples dieta, ou receita pré-pronta, mas ter uma gama de habilidades e poder ser uma ponte entre os dois melhores mundos (comida / qualidade de vida). Para se ter uma boa educação alimentar a partir de um(a) nutricionista, é preciso que ele(a) sirva de apoio consistente e atenda às necessidades do cliente, uma nutricionista para ser respeitada precisa ouvir seu cliente, e acima disso, ter um certo grau de maturidade profissional, que infelizmente, eu posso dizer claramente que não se aplica a maioria da área.

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  2. Caro Rabisco na Tela,

    Lamento muito da sua experiência...

    Uma coisa importante que precisamos ter na nossa área é a empatia. Sabe aquilo de você se dar bem "logo de cara" com uma pessoa? As vezes a pessoa é ótima, mas não "bate" com a gente... Acontece... Em toda área que é preciso o contato profissional-paciente é possível disso acontecer.

    Acredito também - veja bem, não tem a menor pretensão de justificar ou defender ninguém - que, essa falta sensibilidade, de maturidade e inteligência emocional que vc disse, acontece em toda e qualquer área. Quantos não são os médicos que nós atendem em 15 minutos? As secretarias que nem nos olham direito? Os vendedores que respondem rispidamente?
    Comportamento é um treco difícil...

    A nutrição é uma ciência "jovem", muito presente no cotidiano, dentro da vida de todo mundo, e assim, fica muito fácil misturar as coisas (do que chamamos de conhecimento científico e conhecimento do leigo... Aqui, no sentido lato). O post foi direcionado à colegas de área, justamente para tenhamos cada vez menos pacientes/clientes insatisfeitos como você ficou. ;)

    Muito obrigada pela sua colocação, sempre bom "ouvir" o outro lado!

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