Eu sabia que seria assim.
Tinha certeza.
Eis que o Globo Repórter quis falar agora do pão. E assim o fez.
"Da onde vem, o que faz, como ele te engorda...? Veja no Globo Repórter!".
E cá voltamos nós para o dilema pós-estrago midiático. Sei que já escrevi sobre isso - exatamente a respeito deste programa - mas não posso evitar: é preciso lembrar que o programa é um produto cultural, que precisa "se vender".
Quanto mais gente assistir, melhor... Claramente, a escolha do tema foi assertiva: pauta polêmica (pela falta absoluta de consenso e da grande legião de "seguidores doutrinatarios"), pela presença constante do objeto da discussão na vida cotidiana (quem não come pão?) e, sobretudo, pela relação cruel com a vedete contemporânea da "perda de peso".
Ótimo. Jornalistas e editores fizeram a lição de casa direitinho: e tiveram seu produto consumido em larga escala.
Infelizmente, para quem trabalha com a nutrição como "coisa seria", para quem a respeita enquanto ciência, para quem literalmente vive dela, foi - novamente é como de consume - uma tristeza.
Na alimentação não há vilões e mocinhos. Não existem receitas milagrosas. Não há privação desnecessária que seja a resolução dos problemas da vida - muito menos da "perda de peso".
Enquanto profissional da área - que terá muito trabalho nas próximas semanas para minimizar o eco gerado em rede nacional - vale lembrar que não há comprovação científica suficiente para a retirada do glúten da dieta de indivíduos saudáveis, e o Conselho que ampara as resoluções e normativas da nossa prática profissional, carimba em baixo. É possível, inclusive, denunciar quem vai contra... Ou, melhor, quem vai a favor da maré da mídia.
Mas é intrigante como gostamos de promessas e soluções... Como gostamos de uma restrição. E, mais interessante ainda, adoramos a chancela de "qualidade" advinda do respeito adquirido da grande mídia.
Bom, vamos enfrente... Qual será a nova maravilha? Qual será o novo "veneno"? Sigo ansiosa no aguardo.
Na verdade, há comprovação científica suficiente para a retirada do glúten da dieta de indivíduos "saudáveis" porque o problema está no que muitos consideram "saudável". O que é ser saudável? É ter uma rinite que hora fica controlada e hora ataca "do nada"? É desenvolver diverticulite sem motivo aparente depois de anos de consumo de gluten? E se a retirada do gluten fosse na verdade uma medida profilática? Precisamos do gluten pra uma boa alimentação? E o que dizer sobre a permeabilidade intestinal provocada pela gliadina que não tem nada a ver com doença celíaca propriamente dita e que aumenta bastante o risco pra doenças auto-imunes? A globo não é um meio de comunicação confiável, mas seria interessante deixarmos um pouco a doutrinação universitária de lado pra pensarmos de maneira mais crítica.
ResponderExcluirMarina, obrigada pelo seu comentário.
ExcluirNa verdade, a crítica é muito mais em relação à espetacularização da informação científica e modo com que ela é introjetada no consumidor da notícia é não ao glúten em si. Ele, na verdade, foi a bola da vez - apenas isso: como já foi o vegetarianismo, o leite, o licopeno, o azeite, o óleo de coco... É assim por diante.
Quanto à orientação profissional/pessoal do consumo do gluten, bom, isso já deve vir de cada um, e da consciência e interpretação que se tem dos estudos e da prática profissional.
Não condeno a conduta de quem o retira do cardápio (muito embora eu ache realmente uma tarefa difícil..), e não gostaria de ser condenada por deixá-la no meu cardápio e dos Meus pacientes...
Reforço, mais uma vez, a crítica é ao sensacionasmo à informação científica.
:)