Nesses últimos dias uma moça de 37 anos de idade morreu na UTI de um hospital por conta de complicações vindas da perda de peso. Não uma perda de peso qualquer: uma perda de 45kg em menos de um semestre.
Esse emagrecimento, à base de "sucos para desentoxicar" (palavras estas do relato de uma colega), em uma dieta que contemplasse 400kcal (segundo o jornal Extra, O Globo, que narrou a história), claro, não a deixou saudável. Teve pneumonia e infecções tão importantes que, ainda segundo a fonte, a deixaram muito enfraquecida e em uma rotina de idas e vindas constantes do hospital.
Pois então...
Meus mais sinceros sentimentos à família e aos amigos desta moça. E a ela, que tenha paz, toda aquela paz que, claramente, não conseguiu ter por aqui.
Apesar de todo o respeito que tenho ao lamentável acontecimento - e talvez justamente por este respeito, e pelo comprometimento que insisto em ter frente à indústria-da-dieta e ao desejo-de-ser-corpo - não posso deixar de comentar três fatos sobre esse assunto que me chamaram muito a atenção. Muito. Muito mesmo.
Primeiro, a motivação. Muito embora se faça referência à busca da qualidade de vida através do emagrecimento, o gatilho que fez essa mulher - positiva, "iluminada", vaidosa e sempre disposta a ajudar os outros, segundo o relato dos seus conhecidos - tomar tal atitude, teve sua origem na ofensa de um terceiro (um homem). Um outro alguém que comentou sobre o seu insucesso decorrente das suas dimensões corporais. Um homem que, no cômodo direito social de julgador, lhe agrediu com palavras... E, sabe como é, mulher foi feita para enfeitar o mundo, e ai de você se não estiver nas proporções certas. Enquanto mulher for tratada como é, e sua representação foi objetificada e reduzida, me parece que seguiremos nessa linha. Essa condição, vitimiza em dose dupla: o desejo de querer ser aceita, e a própria insatisfação que leva a medidas drásticas. Essa moça não era "louca" por fazer dieta de tamanha restrição, ela seguia um padrão social - quantas não fazem e, porque não morrem, não sabemos?
Segundo, o método. É premissa quase que cultural que "fechar a boca" emagrece. Quantas vezes não ouvimos isso? Quantas vezes não lemos em capas de revista os milagres da nova privação? Quantas vezes não vemos celebridades se gabando das suas privações? Quantas vezes não achamos que a privação "é normal"? E ai, na busca da qualidade de vida, a moça encontra um método que, de tão pouca qualidade, lhe tira a vida. Ela não foi "infeliz" na escolha... Ela foi desesperada, e impulsionada por uma pressão que exercemos (sim, nós todos) diariamente. É a revista, é o programa de celebridade, é a nutricionista, a mãe, o médico, o educador físico, o exemplo nos comerciais, o papo na academia, no salão de beleza, no supermercado... São os olhares julgados, e claro, as agressões verbais dos comentários alheios.
Terceiro, o descaso com o desfecho. Sou só eu que fico absolutamente preocupada com uma morte alcançada por uma desnutrição compulsória? Será que não é visível que a cultura do corpo e a valorização das formas diminuídas está nos atrapalhando? O que será que precisa acontecer para isso ser "assunto sério"? Mas, novamente... A moça não foi "inconsequente" em seguir dieta por conta própria, ela foi vítima da cultura skinny-freak, de um tempo em que se entende feminismo como sinônimo de liberação sexual (e não é!) e de uma indústria da dieta repleta de maus exemplos.
Lamentável.
http://m.extra.globo.com/noticias/brasil/mulher-morre-apos-se-submeter-dieta-radical-perder-45-quilos-em-menos-de-seis-meses-16753502.html
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