Eles estão lá, são a "alma do negócio", mas não são apresentados sozinhos.
Aliás, muito pelo contrário.
A propaganda trás consigo um modelo de conduta, de comportamento, de vida...
Como espelho, reflete aspirações, conceitos e aparências...
E vende, para além do produto, o universo que o contém. Mais ainda, o seu contexto emocional.
Sei que isso não é novidade.
É perigoso, mas não é novidade.
No caso desta propaganda em especial, é uma lástima.
No contraponto ao sublime masculino, Umberto Eco nos lembra de que a beleza é "naturalmente" mais próxima da mulher.
Intrigante e desafiador.
Tamanha foi essa aproximação que parece até uma "necessidade" feminina: a beleza parece ser indispensável para a nossa felicidade.
A magreza, por sua vez, se fez imperativa. E, sem que notássemos, se tornou sinônimo contemporâneo de beleza.
Sei que isso também não é novidade.
Preocupante, triste, mas não novidade.
No caso desta propaganda em especial, é também o coração da narrativa.
Ao fazer uso do produto, a personagem passa a se sentir melhor.
E, por melhor, entenda-se mais bonita (mais confiante, mais determinada, com mais disposição). Tudo como consequência da beleza adquirida).
Certo.
E não é esse mesmo o objetivo da publicidade? Não se deseja êxito através da aquisição do produto? Não é o seu consumo o grand finale? Então não seria essa uma boa maneira de exibi-lo?
Novamente, quase nada de novidade.
Preocupante, triste, e afogado na espiral da insatisfação (companheira inseparável do consumo, como pensou o caro Lipovetsky), mas não novidade.
Agora, apesar de tudo de ordinário, eis que surge uma superação.
Uma superação no coração da fragilidade de um gênero aprisionado em valores distorcidos de beleza.
Uma superação propulsora de transtornos de percepção corporal.
Uma superação recheada de neuroses.
Uma superação digna de distúrbios de comportamento (alimentares, sociais e de compaixão para consigo mesma).
Por fim, uma superação que propaga uma falsa noção de "dieta", de "resultado" e, mais tristemente, de "motivo de felicidade".
De fato, cada vez me parece mais claro que, enquanto mulheres, nunca fomos tão livres (em direitos, nas possibilidades e no âmbito profissional). E, no entanto, nunca fomos tão presas (na mais severas das prisões que nos arranca pequenos prazeres em prol de um ideal estético imperativo).
Uma prisão amarga, cheia de culpa, que nos é reafirmada a todo momento, até mesmo quando o objetivo é vender um rímel.
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