quarta-feira, 14 de maio de 2014

O fetiche-da-restrição!

Na prática de consultório, ao rolar a página das redes sociais, ou como mera ouvinte de diálogos em lugares públicos, me impressiono com o fetiche-da-restrição.

Não é de hoje, eu sei, mas cada vez mais, dia a dia, noto uma constante euforia com as novidades milagrosas da restrição: a dieta sem lactose promete o (popular) “desinchaço”; a sem glúten, promete “tirar a barriga”; a sem carboidrato, promete o emagrecimento imediato; aquela a base de frutas, diz da melhor disposição.... E isso é só o começo!

Acho particularmente interessante o paradoxo que surge desse fetiche. E isso, independe do resultado que se objetiva mas, sem dúvida, torna-se ainda mais claro quando este é estético.  

Pense aqui comigo: ao mesmo passo que se busca a “facilidade” em atingir os resultados (sim, as pessoas não querem emagrecer, mas sim serem emagrecidas), quanto mais árdua for a jornada (desde que ela dure pouco tempo), melhor!

Pois então, me parece que quanto mais restrita for a dieta e mais sem graça forem as opções, mais se vangloria do resultado. Parece que, em algum momento, não sei bem quando, o sofrimento tornou-se premissa para o sucesso, fato este tão bem aceito que, já de antemão fazer dieta ficou ruim.

Lamento.  E muito.

O fetiche-da-privação não apenas propaga uma falsa noção de dieta, como (e ainda mais importante) uma falsa noção de “bons resultados”, fazendo deste fetiche força motriz para a eterna melancolia do consumo alimentar: as pessoas comem cada vez menos, e estão cada vez mais tristes com seus corpos.

Belo favor nos faz, não?   


A nutrição não é uma ciência de fins. É uma ciência de meios.    


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