Na prática
de consultório, ao rolar a página das redes sociais, ou como mera ouvinte de
diálogos em lugares públicos, me impressiono com o fetiche-da-restrição.
Não é de hoje, eu sei, mas cada
vez mais, dia a dia, noto uma constante euforia com as novidades milagrosas da
restrição: a dieta sem lactose promete o (popular) “desinchaço”; a sem glúten,
promete “tirar a barriga”; a sem carboidrato, promete o emagrecimento imediato;
aquela a base de frutas, diz da melhor disposição.... E isso é só o começo!
Acho particularmente
interessante o paradoxo que surge desse fetiche. E isso, independe do resultado
que se objetiva mas, sem dúvida, torna-se ainda mais claro quando este é
estético.
Pense aqui comigo: ao mesmo
passo que se busca a “facilidade” em atingir os resultados (sim, as
pessoas não querem emagrecer, mas sim serem emagrecidas), quanto mais árdua for
a jornada (desde que ela dure pouco tempo), melhor!
Pois então, me parece que quanto
mais restrita for a dieta e mais sem graça forem as opções, mais se vangloria do resultado. Parece que, em algum momento, não sei bem quando, o sofrimento
tornou-se premissa para o sucesso, fato este tão bem aceito que, já de antemão
fazer dieta ficou ruim.
Lamento. E muito.
O fetiche-da-privação não apenas
propaga uma falsa noção de dieta, como (e ainda mais importante) uma falsa
noção de “bons resultados”, fazendo deste fetiche força motriz para a eterna
melancolia do consumo alimentar: as pessoas comem cada vez menos, e estão cada vez mais tristes
com seus corpos.
Belo favor nos faz, não?
A nutrição não é uma ciência de
fins. É uma ciência de meios.
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