sábado, 16 de maio de 2015

Sabe a dieta da presidente?

Sabe aquele dieta que a presidente faz?
Aquela que não é a do médico americano, nem a do médico francês, mas que, claro, também corta carboidratos... Sabe qual é ?



Pois então, que resultado não é mesmo? Uma notável perda de peso que virou até notícia em alguns veículos. Digna, inclusive de comparação de fotos antes e depois. 
Apesar de acreditar que a atual situação política do país mereça um pouco mais do que considerações a cerca da composição corporal da presidente, aproveito aqui a pauta para pedir licença, e mostrar um pouquinho o lado de cá da ciência desta perda de peso. Será que posso?

Obrigada. :)

Antes de tudo, a redução de carboidrato é uma velha estratégia dietética. Através dela é possível modular a insulina (hormônio responsável por organizar o emprego da energia) e, com isso os estoques do corpo conseguem ser mobilizados. Mais inteligente ainda se, para esta modulação, for considerado o impacto sanguíneo (e metabólico) causado pelo consumo (que chamamos de carga glicêmica e muito interfere em uma boa dieta). O cenário fica diferente, no entanto, quando de "regulação", passamos à "privação" e então, neste ponto... Bom, aí a "conduta" vira uma verdadeira armadilha!

Primeiro, que o corpo é bicho e tem medo de morrer.
Fomos feitos para preservar a vida e, sem a sinalização coerente do consumo, a informação que passamos é de que teremos que nos contentar com "menos". Assim, uma série de peptídeos e hormônios reguladores são lançados com a proposta de colocar o corpo para trabalhar low cost, gastando menos energia para executar suas funções e estimulando o estoque energético (quando possível). Gastamos menos energia para se mante vivo - ou seja, em resumo, diminui o metabolismo.
Na tentativa de preservar a vida... Economizamos. É assim na nossa prática diária e não é diferente na fisiologia.
Desculpe mas, ao menos ao meu entender, não me parece muito favorável estimular a redução do gasto quando o que se quer é gastar mais. Não é mesmo? Eis então um contra senso metabólico: quero perder, mas para isso, eu sinalizo para o meu corpo que ele tem que estocar - uma equação fadada ao erro.

Segundo que, novamente, o corpo é bicho e tem medo de morrer.
No cenário da privação, de todas as informações recebidas pelo corpo, uma das que mais prevalece é o stress. Stress de falta, de redução, de escassez.
O stress proporciona que os estoques sejam colocados em uso, mas isso não dá faz à revelia: o corpo não sai gastando "qualquer coisa", ele tem a nobre intensão de se manter vivo por maior tempo possível, e isso o faz economizar.
Na escolha do substrato energético a ser mobilizado, certamente ele irá escolher aquele que lhe fará menos falta, o que o possibilitará driblar o momento de crise. O resultado disso? Um esforço mais-do-que-natural para preservar o estoque mais barato, a gordura.
Pois é... Na cadeia de uso de energia, a gordura é um bem precioso! E então, em momentos de stress orgânico, ela é preservada no limite do possível, em detrimento aos demais substratos.
Isso, em poucas palavras, resulta em perda-de-peso-na-balança e manutenção-de-gordura (principalmente aquelas localizadas). A composição corporal perde contornos e mantém, como vimos a pouco, seu metabolismo baixo. Se cansar dessa privação (dessa dieta)? Os estoques de gordura localizados seguirão como os principais pontos de armazenamento do corpo, este que terá ainda mais dificuldade em gastar energia (... ué, como acabamos de ver, não é que o seu gasto foi forçado a se reduzir?).

Terceiro que, de novo, o corpo é bicho e tem medo de morrer!
Na evolução, a maleabilidade adaptativa do corpo foi indispensável. Sem ela não conseguiríamos ter driblado a intempérie e a escassez de alimentos... Não sobreviveríamos para contar a história. Hoje, no entanto, essa característica é a grande responsável pelo platô de perda de peso, o "estancamento" da perda. Esse platô é a própria materialização da adaptação.
O corpo aprende e se adapta ao que recebe: se antes recebia 1000kcal ele vivia bem com elas... Se passou a receber 800kcal, ele perde peso, reduz seu gasto, se adapta, e passa a viver bem com elas também. A dificuldade em progredir aparece quando a partir da redução não se consegue mais "comer normal", ou seja, quando o consumo precisa ser cada vez menor para conseguir resultados de perda de peso.  Vai se criando um calabouço dietético de privação e redução.
Uma pena, comer é tão gostoso...
Será que é mesmo uma boa mostrar pro corpo que queremos "funcionar com menos"? Será que isso não dificulta a perda de peso subsequente? Se o corpo estará acostumado a menos, como vai ser quando se cansar da dieta de privação e aparecer para ele o "normal"?
Eis que vem o rebote, e a eterna dificuldade em controlar o peso e a composição do corpo. Eis que se assume uma vida cheia de restrições. De nãos.

Para além da redução metabólica, da preservação da gordura corporal e da dificuldade de manutenção dos resultados, o pior de tudo, o fundo do poço, o mais desesperador é a falta de felicidade que dietas como essa pregam. Nos ensinam que para ter resultados é necessário ter foco, determinação e disposição ao não-gostar-do-comer. Fatores estes que juntos e acrescidos da privação de consumo, acabam mesmo por nos privar dos bons momentos da vida.

Acho que está mais do que na hora de usar os conhecimentos da ciência a nosso favor... E não contra. De usá-los à favor de uma vida gostosa, com escolhas, que não dependa dos cortes e dos não. Que nos dê cores e nos possibilite sabores. Tomara que o foco e a determinação sejam ajustados para isso.




http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/dilma-perdeu-15-quilos-com-dieta-veja-antes-e-depois



Nenhum comentário:

Postar um comentário