sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Considerações sobre a Jacada.

Jacar, verbo intransitivo contemporâneo, que significa “grandes erros alimentares”, “saída da dieta” e “comer mais do que devia”.
Seu registro de origem está no dicionário Força-Foco-Dedicação, que também comporta expressões como Barriga Chapada, Gordice e Dia do Lixo – todos advindos de um estilo de vida com poucas permissões e muita (muita) culpa.
Um estilo de vida segregador, próprio para likes e hashtags. Feito para ser visto no espelho, na selfie e no Insta. Um estilo de vida que propõe marmitas em festas, ovo com batata doce no meio da tarde e Whey Protein de café da manhã. Um estilo de vida repleto de nãos e endossado por profissionais da saúde, celebridades, sub-celebridades e quem diria, por profissionais-da-saúde-celebridades. Um estilo de vida que vive com medo de cair em tentação e que encontra nos eventos sociais não só os amigos, mas sim, verdadeiros problemas-de-dieta.   
Uma proposta de vida baseada no No Pain No Gain que, espertamente camuflada de vida- saudável, segue firme nos agachamentos e supinos nossos de cada dia, construindo ao mesmo passo, viveres narcisistas e corpos Secos (cujas definições também se encontram no mesmo dicionário Força-Foco-Dedicação).
Não obstante, Jacar é uma expressão que convive nos diálogos daqueles que contam calorias, vivem na cetose metabólica por uma dieta carbofóbica ou de longos jejuns, daqueles que treinam à exaustão e forçam uma lipozinha mesmo estando abaixo de 16% de gordura corporal. Jacar é sinalizador da supremacia do corpo esbelto, sarado, cultivado “naturalmente” na vida de restrições, onde não há sequer espaço para a liberdade (de atitudes, de comportamento e do tamanho da barriga).
Ainda mais interessante, é a ampla gama de variações que a Jacada pode ter, sim, pois dentre a sua escala de cores, à esta denominação pode responder, desde o consumo de um mero pedaço de pizza, de uma taça de vinho, do bolo no aniversário do colega, do bombom que foi uma querida surpresa, à extravagância desmedida de um consumo alimentar compulsivo – mas, na filosofia mandante, tudo é tratado sob o mesmo tom e referido como “Ih, jaquei”. Não à toa, faz-se vista grossa aos problemas que podem estar enraizados no verbo, que, como pretenso participante do estilo de vida saudável, pode camuflar sérios e importante distúrbios (corporais, comportamentais, alimentares, sociais e psicológicos).

Dentre tantos verbos disponíveis ao uso, Jacar me soa feio, mal, descabido e pretensioso. Mas sei lá. 






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