domingo, 22 de dezembro de 2013

Beleza e cultura: cada uma tem a sua!

         Jovens meninas da Mauritânia são mantidas, desde a primeira infância, em uma rigorosa dieta. Apesar de muitas não apreciarem o paladar – nem tão pouco o volume que lhes é oferecido – a promessa de uma vida melhor reside na aparência física.
             Em um país castigado pela pobreza, o ideal de beleza feminino não poderia ser outro: o peso em excesso. Os efeitos no corpo, frente a busca deste ideal, não são sutis e muitas destas mulheres sofrem com os já conhecidos impactos desta condição.
            Há quem se indigne com o comportamento destas famílias, e quem questione o sofrimento e a metamorfose física que estas meninas se submetem. Há, mais ainda, quem ache absurdo o prejuízo à saúde decorrente de uma conduta “bárbara”, “ultrapassada” e, por que não, sexista.
            Frente a qualquer suposição quanto às práticas destas jovens, proponho o seguimento da leitura.
            Jovens meninas de São Paulo, Nova Iorque, Paris e Tóquio são mantidas, desde a primeira infância, em uma rigorosa dieta. Dieta esta determinada, sobretudo, pelos seus ideais estéticos. Modelos familiares e midiáticos buscam – e lhes apresentam constantemente – mulheres magras. Apesar de muitas não apreciarem as regras de uma dieta restritiva – nem tão pouco se sentirem satisfeitas com o volume que lhes é oferecido – a promessa da felicidade reside na sua aparência física.
            Dentre os modelos definidos através da globalização, o ideal de beleza se constrói único, a despeito das características individuais, da etnia e até mesmo da faixa etária: longilíneas, alvas e jovens. Os efeitos no corpo, frente a busca deste ideal, não são sutis e muitas destas mulheres, sofrem com dietas drásticas, exercícios extenuantes e procedimentos invasivos.  
            Guardadas as devidas diferenças culturais, a mulher se posiciona em constante proximidade com a beleza e se sente na obrigação de cultivar um corpo baseada em determinantes exteriores – que talvez não sejam os mais prazerosos ou, tão pouco os mais saudáveis.O cultuo a uma beleza de “difícil acesso” se resume como sorte de poucas e desejo de muitas. Estas muitas, invariavelmente infelizes com seus corpos.
            Quando não se medem esforços para atingir objetivos – estes bastante caprichosos – os resultados podem ser drásticos, assim como é para a saúde das senhoras da Mauritânia e, por mais que nem sempre seja considerado, das mulheres que travam uma busca desenfreada por uma magreza que não lhes pertence.
            A inserção na cultura turva a interpretação e, se há quem condene as práticas culturais da Mauritânia, que buscam o ganho de gordura, certamente há quem condene as das meninas de São Paulo, Nova Iorque, Paris e Tóquio que buscam uma magreza sem saúde. Será que apenas as africanas estão submetidas a uma cultura bárbara, ultrapassada e sexista?   



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