terça-feira, 7 de janeiro de 2014

É pela saúde...

“Doutora, eu preciso perder peso. É sério, não é por estética, é por saúde.”

Sim, mas claro. Nunca pensei diferente disso... Mas porque será que o senso comum insiste em fortalecer esta dicotomia?

Desculpe, mas é inegável o valor do bonita-se-sentir. Estar esteticamente satisfeita é bom. E embora aqui caiba a longa e árdua discussão do entrave entre “ser bonita” e se “sentir bonita”, no duelo de insatisfação gerado pelos ícones de beleza – a tal da beleza inatingível, hoje, o foco é outro: a preocupação com a saúde. Ou a preocupação que se diz ser com a saúde.

A obesidade é sabidamente – e constantemente – associada às doenças. Quando a circunferência do abdome é acima de 88cm, quando o índice de massa corporal ultrapassa 30kg/m2, a gordura corporal maior do 27%... Indicadores não faltam para determinar a questão, tão pouco seus efeitos secundários.

Longe de mim negá-los, no entanto, que atire a primeira pedra o nutricionista que nunca teve um paciente com estes indicadores e uma saúde, no limite, nor-mal. Eis a beleza das ciências médicas, não há regra sem exceção.

O que me espanta – me indigna e me preocupa – é o outro lado da moeda: a magreza sem saúde. E, me desculpem novamente, o “mundo fitness” sem saúde – e o turbulento ideal estético que bate de frente com o bem comer.

Aos meus olhos, este lado da moeda é ainda mais perigoso do que o sobrepeso ou a obesidade, pois é socialmente aceito. Mais ainda, é socialmente desejado. Há sempre quem pegue no pé da gordinha que come biscoito de lanche da tarde, mas para a magrinha, chovem elogios (ou críticas invejosas – que neste caso não contam, visto reforçam ainda mais o core da questão!).
Será que reparam que, talvez, a gordinha faça uma bela caminhada após o expediente e que consuma três frutas diferentes ao dia? Será que, talvez, a magrinha complete as necessidades diárias? Será que seu iogurte desnatado é mesmo suficiente?

Sem julgar... Como disse (e acredito mais que tudo) o universo é cheio de exceções e a beleza está, justamente, na diversidade!

Meu maior medo – abro aqui meu coração - é o consciente coletivo deturpado que pode estar sendo (preciso aqui do gerúndio) criado. O discurso de profissionais da área (e daqueles que não são da área – e muitas vezes nem área direito tem) pode não apenas incentivar, como também promover a expansão da uma dada... Des-nutrição. Esta, por sua vez, camuflada pela vedete estética da magreza.


O corpo humano precisa ser nutrido, e o que mais se vê na busca por informações na divulgação científica da nutrição são os “nãos” da alimentação: dieta sem isso... Sem aquilo... Sem aquilo outro. O contrassenso de quem quer bem nutrir é dizer o não aos nutrientes. Não é?


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