segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mulheres, pobres mulheres!

Muito me espanta que o "regime de engorda" seja apontado aqui como cruel.
Na Mauritânia, em uma comunidade cuja renda familiar não atinge as cifras de um café expresso na região da Av. Paulista, me parece bastante plausível que a gordura seja o belo.

O corpo humano é bicho e a gordura corporal é sinônimo de segurança energética. Em uma situação de extrema escassez, não é a toa que sejam privilegiadas as mulheres cuja qualidade orgânica assegure a procriação.

Não me entendam mal, não estou dizendo que é certo forçar meninas ao consumo exagerado de leite e cuscuz, tão pouco maltratá-las, ou deixá-las escondidas sob os véus e prendê-las em casa como responsáveis pelos afazeres domésticos. Se trata de uma cultura incapaz de caber nas molduras da "modernidade". Injustiça, sem dúvida.

No entanto, não consigo deixar de questionar que a ditadura da beleza nos outros pontos do mundo é tal e qual, e os resultados são ainda mais expressivos. A implicância da magreza, a necessidade de contornos perfeitos e a busca incessante pelas imagens da perfeição (trabalhadas por programas de computador) não é menos agressiva do que para as meninas da Mauritânia.

Nos revoltamos quando vemos um povo de tradições "ultrapassadas" engordar jovenzinhas em prol do casamento, mas se submeter a rotinas extenuantes de atividade física e longas recuperações de cirurgias plásticas em uma constante greve de fome, ah, isso tudo bem. 

Incomoda saber que a saúde destas moças está condenada à diabetes, pressão alta, descontrole do colesterol, dores articulares e incapacidades de movimento. Sem duvidas, é de cortar o coração. 

No entanto, será que há o mesmo incômodo ao considerar os efeitos que as fórmulas emagrecedoras, os shakes de fibras e a exaustão dos tratamentos estéticos proporcionam? Paramos mesmo para considerar a infelicidade do vazio da busca por um corpo biotipo apenas de uma pequeniníssima parcela das mulheres? Será mesmo que consideramos a realidade de que o stress orgânico da fome é tão avassalador quando o do ganho de peso em excesso?

Mulheres, pobre mulheres que da Mauritânia à Nova Iorque, não conseguem se ver livres da beleza inorgânica...



http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1680997-15605,00-MENINAS+SAO+OBRIGADAS+A+ENGORDAR+EM+PAIS+AFRICANO+PARA+CONSEGUIR+SE+CASAR.html


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